“Prisão desnecessária”, diz defesa do único detido no caso Vitória

São Paulo — A defesa de Maicol Antônio Sales, único suspeito preso no caso da morte da adolescente Vitória Regina de Souza, brutalmente assassinada em Cajamar, na Grande São Paulo, afirmou que vai pedir a revogação da prisão do suspeito alegando que a prisão foi desnecessária.

Ao Metrópoles, o advogado do detido, José Almir, contou que vai basear seu pedido em duas argumentações, sendo a principal a questão da “desnecessidade da prisão”. Almir diz que Maicol não precisava ser detido, visto que se apresentou espontaneamente na delegacia ao ouvir seu nome envolvido nas investigações sobre o caso.

Segundo o defensor, o suspeito contribuiu para as investigações em ações como entregar o carro, um Corolla prata que é tratado como uma das provas do crime. No veículo foram encontradas manchas de sangue. Exames posteriores devem confirmar se o material colhido pertencia a jovem ou não.

Almir diz que não vê motivos plausíveis para a prisão do cliente e que “outras pessoas investigadas não estão presas”, algo que também ajudaria a embasar o pedido de revogação da detenção.

Por fim, o advogado afirma que vai utilizar do argumento que Maicol é inocente e que espera a resolução do caso para provar seu posicionamento:

“Ele é um inocente que busca justiça. Ele quer, mais do que ninguém, que o caso seja resolvido, que se ache o culpado. Ele com certeza não é”, disse o advogado.

Ainda de acordo com o representante de defesa, Maicol vem sendo “taxado como um dos maiores assassinos que existe na face da Terra”.

“Ele é colocado como se fosse o autor de um bárbaro crime desse e ele não é”.

Dono do Corolla

Maicol foi preso no último sábado (8/3) suspeito de envolvimento no assassinato de Vitória Regina de Souza, de 17 anos, encontrada morta em uma área rural de Cajamar, na região metropolitana de São Paulo.

Ele é apontado como dono de um Corolla prata que fez o mesmo trajeto no mesmo horário que a adolescente quando ela ia para casa. A polícia acredita que o veículo tenha sido usado no assassinato Vitória.

O pedido de prisão temporária de 30 dias foi decretado sob a justificativa de que o dono do carro apresentou contradições, em depoimento à polícia, sobre o seu paradeiro na noite do crime.

“Existem fortíssimos indícios de envolvimento de Maicol com os fatos investigados, além do que as versões contraditórias acerca de seu paradeiro na data dos fatos, especialmente na noite de 26/2, sugerem tentativa de obstruir a persecução criminal e torna flagrante a possibilidade de influenciar futuros depoimentos”, escreveu na sentença a juíza Juliana Franca Bassetto Diniz Junqueira, da Comarca de Jundiaí, cidade do interior paulista.

Veja o momento da prisão:

Na mesma decisão, a juíza negou o pedido de prisão temporária de outro investigado, Daniel Lucas Pereira, mantendo, porém, autorização para cumprimento de busca e apreensão contra ele.

Contradições entre o depoimento de Maicol Antonio Sales dos Santos e o da esposa do suspeito foram fundamentais para que o dono do Corolla prata fosse detido. O rapaz disse à polícia que, na noite do desaparecimento da jovem, em 26 de fevereiro, estava em casa com a sua esposa. A mulher, contudo, desmentiu a versão e disse que, naquele dia, havia dormido na casa de sua mãe.

Ela também disse à polícia que chegou a desconfiar de uma eventual traição do suspeito, após ficar sabendo por um amigo que o carro dele – o Corolla prata – havia sido visto fora de casa. A mulher teria confrontado o companheiro sobre o boato, que foi negado por ele.

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Vitória Regina

Vitória em festa de formatura
Vitória Regina de Souza, de 17 anos
Jovem desapareceu em Cajamar, na região metropolitana de SP
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Corpo de Vitória Regina de Souza, 17, foi encontrado com sinais de tortura e decapitado em Cajamar (SP). Polícia ouviu 14 pessoas envolvidas

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Vitória Regina

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Vitória em festa de formatura

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Vitória Regina de Souza, de 17 anos

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Jovem desapareceu em Cajamar, na região metropolitana de SP

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Além da própria esposa, vizinhos do suspeito disseram à polícia que houve uma movimentação anormal na casa dele no dia do desaparecimento de Vitória. Ele teria ficado “entrando e saindo da garagem” e estacionado o carro dentro de casa, em vez de usar a rua, como era o costume.

Polícia refaz trajeto de Vitória

Na tarde de sábado, duas equipes do Grupo de Operações Especiais (GOE), da Polícia Civil, fizeram buscas em Ponunduva, um bairro de chácaras em Cajamar, próximo à casa da família da jovem.

Na região, foi localizada uma chácara onde a jovem supostamente teria sido mantida como refém. O local foi rondado pelos policiais, mas não há evidências de que seja, de fat,o o local do cativeiro. As equipes também refizeram o trajeto de Vitória antes do desaparecimento.

GCM encontra cabelo e roupas no local de desova

A Guarda Civil Municipal (GCM) de Cajamar encontrou, no dia 8 de março, roupas aparentemente femininas e grande quantidade de cabelo a cerca de 10 metros de onde foi encontrado o corpo de Vitória Regina dos Santos.

De acordo com o secretário de Segurança Pública da cidade, Leandro Arantes, os objetos estavam enterrados e foram encontrados enquanto guardas civis passavam pelo local com um repórter.

“Chegando ao local, você vê parte de cabelo para fora e parte de roupas para fora (…) Não dá para confirmar que é da Vitória. Nós só falamos que são objetos femininos pela proximidade do local”, disse Leandro.

Veja:

Ao ser encontrada, a adolescente vestia apenas o sutiã, estava com o cabelo raspado e havia sido quase decapitada.

Envolvimento com o PCC

O prefeito de Cajamar, Kauan Berto (PSD), negou que a morte da jovem Vitória Regina de Souza, brutalmente assassinada na cidade da Grande São Paulo, tenha relação com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele defendeu que o município é um local pacato, com baixa criminalidade, e que as acusações de envolvimento da facção no caso foram um erro que atrapalha as investigações.

“Eu desconheço qualquer tipo de atuação de PCC na cidade de Cajamar. Em 65 anos de Cajamar. Eu, como nascido e criado lá [na cidade], participei de outras gestões da cidade, fui secretário e nunca ouvi envolvimento de Cajamar com PCC ou até mesmo PCC em bairros de Cajamar, até porque os menores índices de criminalidade estão em Cajamar”, disse Berto, em coletiva de imprensa.

Em conversa com os interlocutores, Kauan disse que a hipótese do PCC, assim como outras especulações envolvendo a sexualidade do ex-ficante da jovem, contribuíram para atrair a imprensa para o caso, mas, na prática, não ajudam a revelar quem matou Vitória.


A morte de Vitória

  • Vitória Regina de Souza, de 17 anos, foi encontrada decapitada e com sinais de tortura na tarde do dia 5 de março em uma área rural de Cajamar, na Grande São Paulo.
  • Ela estava desaparecida desde o dia 26 de fevereiro, quando voltava do trabalho.
  • Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou que o corpo estava em avançado estado de decomposição.
  • A família reconheceu o corpo por conta das tatuagens no braço e na perna e um piercing no umbigo.
  • Imagens de câmeras de segurança mostram a jovem chegando a um ponto de ônibus no dia 26 de fevereiro e, posteriormente, entrando no transporte público.
  • Antes de entrar no coletivo, a adolescente enviou áudios para uma amiga nos quais relatou a abordagem de homens suspeitos em um carro, enquanto ela estava no ponto de ônibus.
  • Nos prints da conversa, a adolescente afirma que outros dois homens estavam no mesmo ponto de ônibus e que lhe causavam medo.
  • Em seguida, ela entra no ônibus e diz que os dois subiram junto com ela no transporte público — e um sentou atrás dela.
  • Por fim, Vitória desce do transporte público e caminha em direção a sua casa, em uma área rural de Cajamar. No caminho, ela enviou um último áudio para a amiga, dizendo que os dois não haviam descido junto com ela. “Ta de boaça”. Foi o último sinal de Vitória com vida.
  • Pelo menos sete pessoas são investigadas pelo crime.
  • Delegado responsável pelo caso diz que “provavelmente foi crime de vingança”.

Noite do desaparecimento

Vitória voltava do trabalho, em um restaurante do shopping de Cajamar, quando sentiu que estava sendo seguida por um carro. Posteriormente, ela enviou áudios para uma amiga, nos quais relatou a abordagem de dois suspeitos no veículo, enquanto estava no ponto de ônibus.

Nos prints da conversa entre a adolescente a amiga, Vitória contou que, ao chegar no ponto de ônibus para pegar o segundo coletivo da noite, notou a presença de outros dois homens que lhe causaram medo.

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Jovem mandou mensagem assustada para a amiga antes de sumir

Vitória diz que dois meninos estavam a assustando e que entraram no mesmo ônibus que ela
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Jovem mandou mensagem assustada para a amiga

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Jovem mandou mensagem assustada para a amiga antes de sumir

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Vitória diz que dois meninos estavam a assustando e que entraram no mesmo ônibus que ela

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Na sequência, ela entra no ônibus e diz que os suspeitos subiram junto com ela no transporte público. Um teria sentado atrás dela.

Ao fim do trajeto, Vitória desceu do coletivo e começou os cerca de 15 minutos de caminhada até a sua casa, localizada em uma área rural de Cajamar. Antes de desaparecer, a adolescente enviou um áudio dizendo para a amiga que os dois suspeitos não haviam descido junto com ela: “Ta de boaça”. Este foi o último sinal de Vitória com vida.

Vídeo mostra últimas imagens da adolescente

 

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