“Um monstro me devora por dentro, é a droga: peço ajuda”

Milhões de brasileiros, dezenas de milhares deles paraenses, padecem dessa praga social: o vício em drogas, pesadas ou não. É um grave problema de saúde pública e o pior é que não há uma política eficiente e de massa voltada para esse segmento.

A escravidão às drogas é o combustível da violência, aí incluído o crime organizado e as facções que já dominam grandes e pequenas cidades, acrescentando um item dramático à violência de roubos, assaltos, estupros, execuções diárias a tiros.

Há pessoas, muito poucas, que conseguem vencer o vício e libertar-se dessa prisão existencial e física. A imensa maioria, contudo, chafurda no abandono, entregue à dependência química. A família sofre junto, não sabe o que fazer. Qual a saída?

O Ver-o-Fato recebeu uma carta que retrata esse drama social. Preservamos o nome e o endereço, por razões óbvias. O autor dessa carta já foi orientado a procurar ajuda, com indicação médica, mas seu relato merece ser lido. É um alerta de uma sociedade cada vez mais doente. Leia, abaixo:

MEU APELO

“Eu não sei mais quem eu sou. O espelho me devolve um estranho, um cara com olhos fundos, mãos trêmulas e uma alma que parece que fugiu de mim. As drogas… elas são meu carrasco e meu refúgio, tudo ao mesmo tempo.

Começou como uma brincadeira, uma fuga pra esquecer os problemas, mas agora eu sou o prisioneiro. Elas mandam em mim, me arrastam pra esse buraco que eu não consigo sair. Tô perdido, cara, perdido pra caramba, e eu odeio isso, mas não sei como parar.

Todo dia é a mesma merda. Acordo com o corpo doendo, a cabeça gritando, prometendo pra mim mesmo que hoje vai ser diferente. “Vou largar essa porra, vou ser alguém”, eu penso. Mas aí o bicho pega, a fissura vem como um soco no peito, e eu caio de novo. Uma pedra, um pó, uma tragada – qualquer coisa que cale essa vontade que queima por dentro.

Eu vejo o tempo passando, as pessoas que eu amo se afastando, e eu aqui, afundando, virando um trapo que ninguém reconhece mais. Minha mãe chora, meus amigos desistiram, e eu não os culpo. Quem quer carregar um peso morto como eu?

Eu não quero ser esse cara. Não quero ser o viciado que mendiga trocado na esquina, que vendeu tudo que tinha de valor – até a dignidade – pra alimentar esse monstro. Mas como eu paro? Como eu mato essa coisa que tá me matando? Eu tento, juro que tento, mas é como se tivesse um demônio agarrado nas minhas costas, sussurrando que eu não sou nada sem ele.

Eu já caí tantas vezes que tô com medo de não levantar mais. Tô com medo de virar só mais uma estatística, um nome que esquecem numa lápide qualquer.

Eu preciso de ajuda, cara. Preciso que alguém me puxe desse abismo, porque sozinho eu não consigo. Eu quero ser outra pessoa – um cara que acorda sem tremer, que olha pra frente sem sentir essa culpa que me rói. Quero um motivo pra viver que não seja correr atrás da próxima dose.

Me ajuda, por favor. Me mostra um caminho, uma luz, qualquer coisa. Eu não aguento mais ser refém disso. Quero me libertar, quero me encontrar, mas não sei como. Me ajuda a vencer esse tormento, porque se eu não conseguir, eu sei que ele vai me engolir de vez.”

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