Milhares protestam em Israel contra Netanyahu e ataques em Gaza

Milhares de pessoas saíram às ruas em Israel nesta quarta-feira (19/3) para protestar contra o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, em meio à decisão de demitir o chefe da agência de segurança interna Shin Bet e à retomada dos bombardeios na Faixa de Gaza.

O exército israelense realizou novos ataques em território palestino, matando pelo menos 970 em dois dias, anunciou o Ministério da Saúde do Hamas, sem dar detalhes sobre as circunstâncias dessas mortes.

A decisão do premiê de reiniciar a guerra na região, enquanto 59 reféns — sendo 24 deles supostamente ainda vivos — seguem em cativeiro, gerou indignação entre as famílias das vítimas e os opositores de Netanyahu.

Na noite de terça-feira (18/3), dezenas de milhares de manifestantes já haviam tomado as ruas do país, e novos protestos foram organizados nesta quarta. Além da ofensiva militar, os atos também denunciam a intenção do primeiro-ministro de afastar Ronen Bar, diretor do Shin Bet.

As relações entre Netanyahu e Bar são tensas desde o ataque surpresa do Hamas em 7 de outubro de 2023, que deixou cerca de 1.200 mortos em Israel e levou à guerra em Gaza. O conflito, que já dura mais de um ano, resultou na morte de mais de 30 mil palestinos, segundo o Ministério da Saúde do enclave governado pelo Hamas.

“Uma guerra pela sobrevivência do governo”

“Não se trata mais de uma guerra por algo importante, mas da sobrevivência deste governo, da sobrevivência de Benjamin Netanyahu”, disse Koren Offer, um dos manifestantes em Jerusalém.

Entre os grupos que organizam os protestos estão o Fórum Escudo Defensivo (Defensive Shield Forum), composto por ex-integrantes das forças de segurança, e o Movimento por um Governo de Qualidade em Israel, que luta contra a corrupção.

O atual movimento de oposição lembra as manifestações que eclodiram em 2023, antes dos ataques do Hamas, quando Netanyahu tentou demitir o então ministro da Defesa, Yoav Gallant. Na época, Gallant se opôs à controversa reforma judicial promovida pelo governo.

Temor pela democracia

Para os opositores, Netanyahu, que está em seu sexto mandato, representa uma ameaça à democracia israelense. “Este governo não respeita os limites”, afirmou Yair Lapid, ex-primeiro-ministro e líder do partido opositor Yesh Atid, em publicação na rede social X. “Basta! Apelo a todos vocês. Este é o nosso momento, é o nosso futuro. Saíam às ruas.”

Pesquisas indicam que Netanyahu não venceria uma nova eleição, principalmente devido às falhas de segurança que permitiram o ataque do Hamas em outubro de 2023 — considerado o maior desastre de segurança da história de Israel.

Apesar da insatisfação popular, o retorno do ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, e de seu partido de extrema direita Otzma Yehudit à coalizão governista fortalece Netanyahu. Ben Gvir e seus aliados haviam deixado o governo em protesto contra um cessar-fogo anterior com o Hamas.

Bombardeios retomados em Gaza

Enquanto isso, os bombardeios israelenses voltaram a atingir Gaza. O governo israelense afirma que usará “força total” para libertar os reféns que ainda estão sob poder do Hamas.

Israel e o grupo palestino se acusam mutuamente de violar o cessar-fogo firmado em janeiro, que havia trazido um alívio temporário para os 2,3 milhões de habitantes do enclave, devastado por 17 meses de guerra.

Pesquisas de opinião apontam que a maioria dos israelenses deseja o fim do conflito e o retorno dos reféns.

“Não tenho ideia do que acontecerá com os reféns se os combates continuarem por semanas”, disse Iftach Brill, morador de Tel Aviv. “É um verdadeiro desastre para nós.”

Por outro lado, algumas famílias de reféns apoiam a retomada da guerra. O Fórum Tikva, grupo que representa parte dessas famílias, afirmou que a única maneira de garantir a libertação dos sequestrados é por meio de um bloqueio total da Faixa de Gaza.

Macron adverte que “não haverá solução militar israelense em Gaza”

O presidente francês Emmanuel Macron disse nesta quarta-feira que a retomada dos ataques israelenses em Gaza foi “um retrocesso dramático” e advertiu que não haveria “nenhuma solução militar” possível no território palestino.

“As hostilidades devem cessar imediatamente e as negociações devem ser retomadas de boa fé sob os auspícios americanos”, disse o presidente francês ao lado do rei jordaniano Abdullah II, que foi recebido no Palácio do Eliseu. “Pedimos o fim permanente das hostilidades e a libertação de todos os reféns” mantidos pelo movimento islâmico palestino Hamas na Faixa de Gaza, acrescentou.

O monarca jordaniano também denunciou “uma fase extremamente perigosa” que estava acrescentando “mais devastação a uma situação humanitária já desastrosa” e conclamou a comunidade internacional a agir “imediatamente” para provocar “um retorno ao cessar-fogo”. Ele pediu a retomada da ajuda internacional, lamentando o “bloqueio” do abastecimento de água e eletricidade por parte de Israel, o que “coloca em risco a vida de uma população extremamente vulnerável”.

De acordo com Macron, a retomada do conflito é “trágica para os palestinos em Gaza, que estão mais uma vez mergulhados no terror dos bombardeios, trágica para os reféns e suas famílias, que vivem o pesadelo da espera e da incerteza por uma libertação que esperamos mais do que tudo, e trágica para toda a região, que está tentando se recuperar após mais de um ano de guerra e turbulência”.

Hamas “derrotado”

Macron também disse que o Hamas havia “sido derrotado”, e que estava “desprovido do patrocinador que o levou ao crime de 7 de outubro” de 2023 durante seu ataque assassino sem precedentes contra Israel, em uma alusão ao Irã. “O eixo de resistência é hoje uma ilusão”, afirmou o presidente francês, referindo-se novamente a Teerã e seus aliados no Oriente Médio, incluindo o Hamas e o movimento libanês Hezbollah, consideravelmente enfraquecidos pelos ataques israelenses.

O líder francês pediu um “retorno ao caminho de uma solução política”, dando seu apoio ao plano dos líderes árabes para Gaza, “que propõe uma estrutura confiável para a reconstrução e elementos para garantir a segurança e instalar uma nova governança que não pode ser a do Hamas”.

Para o chefe de Estado, “as sementes de uma nova arquitetura de segurança regional estão aí”, mas “hoje falta uma peça nesse conjunto eminentemente complexo: um Estado palestino”.

Macron lembrou que, em junho, presidirá “uma conferência para dois Estados”, palestino e israelense, nas Nações Unidas com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed ben Salmane, com quem ele também deve “trocar opiniões” na noite desta quarta-feira.

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