Economistas discordam sobre tom do Copom após alta da Selic: dovish ou hawkish?

Taxa Selic elevada: desafios e oportunidades no mercado imobiliário

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central elevou a taxa Selic em 1 ponto percentual, levando-a ao patamar de 14,25% ao ano, o maior nível desde 2006. A decisão já era amplamente esperada pelo mercado, mas o tom do comunicado gerou interpretações divergentes entre economistas e agentes financeiros.

De um lado, há quem veja sinais de que o Banco Central pode estar suavizando sua postura, diante de uma economia que já mostra desaceleração. De outro, há quem considere que qualquer flexibilização no discurso representa um erro grave de comunicação e enfraquece a independência da autoridade monetária.

Um Copom mais “dovish”?

Para Alexandre Espirito Santo, sócio e economista-chefe da Way Investimentos e coordenador de Economia e Finanças da ESPM, a decisão do Copom seguiu o roteiro previsto, mas seu comunicado foi interpretado como ligeiramente mais “dovish” – ou seja, menos rígido do que o esperado.

“O IPCA de fevereiro registrou a maior inflação para aquele mês em mais de duas décadas, superando os 5% no acumulado de 12 meses. Era esperado que o Banco Central adotasse um tom duro para reforçar o compromisso com a meta de inflação. No entanto, o comunicado sugere que o Copom está atento à desaceleração econômica e pode calibrar os próximos passos de forma mais branda”, afirmou Espirito Santo.

O economista destaca que os indicadores recentes de PIB, indústria, serviços e varejo já apontam para um esfriamento da atividade, o que reforça a necessidade de cautela na condução da política monetária. Segundo ele, há duas possibilidades para a próxima reunião: uma nova alta de 0,5 ponto percentual ou a divisão desse aumento em duas etapas de 0,25 p.p., elevando a Selic para 14,75% até junho.

O erro do Banco Central

Já para o economista VanDyck Silveira, comentarista da BM&C News, o Copom falhou ao não adotar uma postura mais firme e previsível. Para ele, a incerteza sobre os rumos da economia exige um compromisso inabalável com a estabilidade de preços.

“Quando temos inflação muito acima da meta, não podemos fazer uma declaração irresponsável como essa! A mensagem deveria ser simples e direta: a inflação ainda não está controlada e o Banco Central fará o necessário para trazer o IPCA para a meta. Qualquer outra sinalização fere a credibilidade da instituição e levanta dúvidas sobre sua independência”, criticou Silveira.

O economista defende que, se for necessário elevar a Selic para 18% para conter a inflação, essa possibilidade deveria ser claramente considerada no comunicado. Para ele, indicar que a próxima reunião pode não ter um aumento significativo é um erro grave, que pode ser motivado por incompetência, ignorância ou até alinhamento político com o governo, que busca impulsionar o crescimento a qualquer custo.

O desafio do Copom: inflação e credibilidade

O grande dilema do Banco Central neste momento é equilibrar a necessidade de conter a inflação sem provocar um impacto excessivamente negativo sobre o crescimento econômico. A política monetária já está pressionando a atividade e, ao mesmo tempo, a inflação segue acima da meta e as expectativas para 2026 continuam ancoradas no teto.

Se, por um lado, a decisão do Copom pode ser vista como um primeiro passo para um ajuste mais gradual da taxa de juros, por outro, a falta de um tom mais rígido pode gerar ruídos no mercado e colocar em xeque a credibilidade da instituição. A próxima reunião do Comitê será decisiva para confirmar qual dos cenários se concretizará.

A dúvida permanece: o Copom acerta ao considerar uma calibragem mais branda ou está cedendo a pressões externas? O que parece certo é que, independentemente da trajetória escolhida, o Banco Central seguirá no centro das atenções dos investidores e formuladores de políticas econômicas.

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