Sou obrigado a concordar com Bolsonaro: ele é um aborto da natureza

A princípio pareceu só mais uma live para que Bolsonaro se defendesse mais uma vez das acusações que deverão pôr fim à sua carreira política, remetendo-o à prisão por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe, danos às sedes dos três Poderes da República e organização criminosa.

De fato, ele usou a ocasião para se apresentar como um injustiçado e repetiu os velhos e inconsistentes argumentos de que é vítima de uma trama da justiça. Nada de novo acrescentaram em sua defesa um dos seus advogados presente e o âncora da conversa de mais de duas horas, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o Zero 1.

O ex-presidente definiu-se como um “aborto da natureza”. Ele afirmou:

“Eu fui um aborto da natureza. Além de sobreviver a uma facada, na graça de Deus, a minha própria eleição. Quem podia esperar que eu, um deputado do baixo clero, tido por muitos como encrenqueiro, e era encrenqueiro mesmo, conseguiria ganhar uma eleição?”

Ao fim da live, porém, diria:

“Me deem [na próxima eleição] 50% da Câmara e 50% do Senado que eu mudo o destino do Brasil.”

De início, também pareceu que o encontro serviria basicamente para celebrar os 70 anos de vida de Bolsonaro, completados hoje. Apareceram os filhos Zero 2 (Eduardo, o fugitivo) e Zero 3 (Carlos, o marqueteiro do pai). E Michelle, a ex-primeira-dama, acompanhada de um pastor, com orações, beijos, abraços e um bolo.

Mas o segredo estava no bolo, em formato de capacete para uso de motociclistas. Flávio aproveitou grande parte do programa para anunciar de viva voz, e por meio de comerciais estrelados por Bolsonaro, que ele e o pai se associaram para fabricar capacetes de grafeno, o “primeiro de vários produtos da família”.

Pois é: business. Aposte na incontida ambição da família Bolsonaro por dinheiro que você não erra. Como demonstrado ao longo da trajetória do clã, enriquecer é seu objetivo número um, dois e três. E se a política lhe abriu as portas para negócios, por que não fazê-los, de preferência em dinheiro vivo ou via Pix?

Um capacete com a marca “Bravo”, autografado por Bolsonaro, foi leiloado. Flávio disse que seu preço na fase de pré-venda será de 740 reais. Quem desse o lance mais alto até o fim da live receberia aquele capacete das mãos do próprio Bolsonaro. O primeiro lance foi de 10 mil reais. O último, de 36 mil. Flávio advertiu:

– Mas manda o Pix.

Nos primeiros seis meses de 2023, Bolsonaro recebeu 17,2 milhões via Pix ao alegar que lhe faltava dinheiro para pagar as multas que devia por não usar capacete pilotando motocicletas. Ao todo, foram 769 mil transações entre 1º de janeiro a 4 de julho. Nesse período, a conta de Bolsonaro movimentou R$ 18,5 milhões.

Nos próximos dias, mais três capacetes autografados por Bolsonaro serão leiloados no canal do Instagram da nova empresa.

 

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