Alckmin sobre tarifas de Trump: “O Brasil não é problema para os EUA”

O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), disse nesta segunda-feira (24/3) que o Brasil continuará apostando na negociação com o governo dos Estados Unidos para derrubar algumas das tarifas aplicadas pelos norte-americanos sobre diversos produtos importados.

Desde o último dia 12, estão em vigor as tarifas de 25% sobre as importações dos EUA de aço e alumínio. A medida afeta diretamente o Brasil, um dos principais fornecedores do material para os norte-americanos.

“A relação do Brasil com os EUA tem 200 anos, é uma relação secular. E o Brasil não é problema para os EUA. Os EUA têm superávit na balança comercial com o Brasil, tanto no setor de serviços quanto no setor de bens. Os EUA têm déficit com o mundo, mas superávit com o Brasil”, afirmou Alckmin, ao participar, por videoconferência, de um seminário promovido pelo jornal Valor Econômico, em São Paulo.

“Nós deveríamos aproveitar novas oportunidades para fazer um adensamento de cadeia, uma complementaridade econômica. No caso do aço e do alumínio, os EUA aumentaram para 25% não só para o Brasil, mas para o mundo inteiro”, observou o vice-presidente.

Segundo Alckmin, “são negociações que estão ocorrendo e nós defendemos o ganha-ganha”. “Devemos aproveitar oportunidades para ter mais comércio exterior”, defendeu. “Os EUA são importantes para o Brasil porque é para quem a gente vende mais produto de valor agregado. Nosso empenho é avançar nas negociações.”

Apesar do discurso conciliatório, o vice-presidente disse que o governo brasileiro lamenta a atitude dos EUA.

“O Brasil tem uma tradição de não ter litígio com ninguém. É o país da paz e defendemos o comércio exterior e o livre comércio”, prosseguiu Alckmin.

Segundo dados do Departamento do Comércio do governo norte-americano, cerca de 25% do aço e 50% do alumínio usados no país são importados. O Brasil é o segundo maior fornecedor dos EUA, atrás apenas do Canadá.

No acumulado de 2024, o Brasil vendeu pouco mais de 4 milhões de toneladas ao país, o que corresponde a 15,5% de tudo o que os EUA compraram de fora. De acordo com o governo norte-americano, o montante chegou a US$ 2,9 bilhões.

Embora não tenha como principal alvo o Brasil, mas a China, o “tarifaço” de Trump deve atingir duramente a siderurgia nacional, que terá de vender o excedente do produto para outros países, sob pena de diminuir a produção, em meio ao risco de redução de empregos.

Para a economia brasileira, como um todo, as tarifas impostas pelos EUA têm o potencial de reduzir a circulação de dólares no país, com a redução das vendas, o que pode levar a uma forte desvalorização do real frente ao dólar.

EUA x China

Questionado sobre a guerra comercial entre EUA e China e a possibilidade de o Brasil intensificar relações com os chineses por causa do “tarifaço” de Donald Trump, o vice-presidente foi diplomático.

“Os EUA e a China são grandes parceiros do Brasil. A China é o maior comprador do Brasil e os EUA são os maiores investidores no Brasil”, lembrou. “A nossa disposição é defender o multilateralismo e o livre comércio. Vamos aguardar o dia 2 de abril, quando os EUA devem anunciar novas medidas.”

Selic a 14,25% ao ano

Durante sua participação no seminário, Geraldo Alckmin foi questionado sobre a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de aumentar a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, para 14,25% ao ano.

A decisão foi anunciada na semana passada. Trata-se do mais elevado patamar dos juros básicos no Brasil em 10 anos. A elevação dos juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação.

“É claro que a Selic a 14,25% atrapalha a economia porque torna muito caro o custo de capital”, criticou Alckmin.

Por outro lado, o vice-presidente afirmou que “a redução da inflação é essencial”. “A inflação não é neutra. Ela atinge muito mais o assalariado, que vê o seu salário perder poder aquisitivo”, destacou.

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