“Tento conviver com o trauma”, diz jornalista perseguido por Zambelli

São Paulo — A vida de Luan Araújo, de 35 anos, mudou após o dia 29 de outubro de 2022. Era véspera do segundo turno da eleição presidencial quando ele entrou em uma discussão com a deputada federal Carla Zambelli (PL), que sacou uma arma e o seguiu pelas ruas do bairro Jardins, região nobre de São Paulo. Desde então, o jornalista, identificado como apoiador de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), faz acompanhamento psicológico, evita se pronunciar e diz ainda se sentir “bastante” perseguido.

Em conversa com o Metrópoles, Luan contou que, depois do evento de 2022, precisou da ajuda de uma rede de apoio para voltar a andar na rua com segurança. “Meus amigos também foram importantíssimos nesse processo, pois eu sofro de depressão e tomo remédios controlados diariamente, além de ter acompanhamento psicológico (…). No geral, eu tento conviver com o trauma”.

Em 2024, Luan foi condenado em primeira instância pelo crime de difamação contra Zambelli em razão de um texto publicado em 2022 em que comentava a perseguição da deputada. Nele, Luan dizia que Zambelli mantém uma “seita de doentes de extrema direita que a seguem incondicionalmente e segue cometendo atrocidades”, além de dizer que a deputada faz é parte de uma “extrema direita mesquinha, maldosa e que é mercadora da morte”.

O processo fez com que o jornalista parasse de falar em público, de forma que as todas as respostas dadas à imprensa precisam passar primeiro pelo crivo da sua defesa, representada por Renan Bohrus. “Ele já foi processado por difamação, não queremos que aconteça novamente”, explicou o advogado.

O texto foi retirado do ar por decisão judicial, mas Luan diz não concordar com a condenação e aguarda pelo julgamento dos recursos. “Espero que as outras instâncias reparem esse erro”, diz o jornalista.

A repercursão do evento nos Jardins, assim como os processos de difamação e de porte de arma movido contra Zambelli, colocaram Luan na mira de apoiadores da deputada. Por essa razão, ele ainda se diz perseguido. “Apesar de ter essa rede de apoio, sei que muita gente quer me ver mal e até preso. Mas prefiro abstrair e viver minha vida tranquilamente”.

Relembre a deputada com arma em punho:

 

 

Condenação no STF

Na manhã desta terça-feira (25/3), o Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para condenar Carla Zambelli a 5 anos e 3 meses de prisão, além da perda do mandato parlamentar, pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal.

Mesmo com o pedido de vista do ministro Nunes Marques, Cristiano Zanin e Dias Toffoli votaram antecipadamente, ampliando o placar para 6 a 0 pela condenação da parlamentar, seguindo o voto do relator, Gilmar Mendes. O julgamento ocorre no Plenário Virtual do STF.

Com a solicitação de Nunes Marques, a análise do caso fica suspensa até que o ministro devolva o processo para deliberação.


Veja o que diz o voto de Gilmar Mendes:

  • Unificação das penas fixadas para cada crime, nos termos dos arts. 69 e 72 do Código Penal, totalizando o montante de 5 anos e 3 meses de pena privativa de liberdade e 80 dias-multa, observada a execução da pena de reclusão antes da pena de detenção.
  • Fixa o regime inicial de cumprimento de pena em semiaberto.
  • Entende que o STF sedimentou, por larga maioria, que condenação criminal transitada em julgado resulta na perda do mandato, independentemente da quantidade de pena aplicada, do regime de cumprimento de pena ou de posterior decisão da Casa do parlamentar.
  • Portanto, em atenção à jurisprudência desta Corte, decreta a perda do mandato parlamentar da deputada federal Carla Zambelli como efeito da condenação criminal.
  • Determina cancelamento definitivo da autorização de porte de arma de fogo da ré. A arma de fogo apreendida deve ser levada ao Comando do Exército.

Defesa de Zambelli

O advogado de Carla Zambelli, Daniel Bialski, reclamou, por meio de nota, do cerceamento do direito de defesa oral no processo. Como o caso é julgado em plenário virtual, a defesa expõe seus argumentos em vídeo.

“Essa seria a melhor oportunidade de evidenciar que as premissas colocadas no voto proferido estão equivocadas. Esse direito do advogado não pode ser substituído por vídeo enviado — cuja certeza de visualização pelos julgadores inexiste. Mas, apesar desse cerceamento da defesa, foram ainda enviados e despachados memoriais com os ministros para motivá-los a ter vistas e examinar minuciosamente os autos”, informou o advogado.

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