SP: preso diz que estripou colega de cela após “salve” de facção do RJ

São Paulo — Três presos apontados como autores de um assassinato brutal em uma penitenciária de Presidente Prudente, no interior do estado, atribuem o crime a um suposto “salve” da facção carioca Amigos dos Amigos (ADA), que atua no Rio de Janeiro há mais de 25 anos e seria inimiga do Primeiro Comando da Capital (PCC), que domina o sistema prisional de São Paulo.

Ladson dos Santos Pereira, o “Zoio de Gato”, Sandro dos Santos, o “Pesadelo”, e Diogo Batista da Silva Claudiano, o “Corintiano”, vão responder no Tribunal do Júri pelo homicídio triplamente qualificado de Anderson da Silva, conhecido como “Carro Roubado”. A data do julgamento ainda não foi marcada.

Segundo o Ministério Público de São Paulo, o trio teria usado um pedaço de espelho quebrado e um espeto para fazer uma série de perfurações no corpo da vítima e tentar degolá-la no banheiro da cela. Eles ainda teriam retirado seus órgãos e colocado em um balde.

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Entrada da cela

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Cela onde moravam os 21 presos

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Banheiro da cela, onde vítima teria sido morta

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Na denúncia, desconsiderando o suposto “salve” mencionado pelos réus e por testemunhas, a 11ª Promotoria de Presidente Prudente atribuiu o assassinato a uma briga por chocolate.

Segundo o documento, Carro Roubado teria sido morto como punição por delatar que Corintiano teria comido a barrinha de um outro detento, conforme relatam outros presos que presenciaram o crime.

Carro Roubado foi morto na noite de 14 de março do ano passado, na cela em que vivia com outros 20 homens na Penitenciária Wellington Rodrigo Segura. Por quase 12 horas, os outros presos tiveram que dividir o espaço com seu cadáver e suas vísceras, colocadas em um balde. O corpo só foi retirado na manhã do dia seguinte, quando o carcereiro foi até o local para a contagem matinal dos detentos.

Assim que o funcionário da penitenciária apareceu, Ladson dos Santos Pereira assumiu a autoria do crime: “Foi desavença antiga minha, senhor”.

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Ladson dos Santos Pereira

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Sandro dos Santos

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Diogo Batista da Silva Claudiano

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Preso há oito anos por tráfico de drogas, Zoio de Gato, como é conhecido, disse que a morte teria sido encomendada pelos “pilotos gerais” da cadeia, “Cabelo” e “Ageu”, que não foram identificados.

Como foi o “salve”

Segundo ele, o “salve” teria sido direcionado a um outro preso, que teria se recusado a realizar a “missão” do assassinato, alegando que estava velho para isso. Zoio de Gato afirmou que, diante disso, assumiu a responsabilidade.

Apontado como participante do crime, Sandro dos Santos também falou em seu interrogatório sobre o suposto “salve”.

Condenado a 24 anos por homicídio, o preso, conhecido como Pesadelo, disse que Cabelo, que seria o “final” da facção ADA na penitenciária, “encostou na cela” e disse que o preso de vulgo “Lealdade” deveria cumprir a missão. Lealdade, no entanto, teria, na gíria do crime, “rasgado a camisa”, desobedecendo a ordem.

Diogo Batista da Silva Claudiano, o Corintiano, também apontado como autor do crime, é o único a negar envolvimento, dizendo que o assassinato seria obra de Zoio de Gato. Mas corrobora a versão dos colegas sobre um suposto “salve” da ADA.

Testemunhas afirmam que, enquanto Zoio e Pesadelo matavam Carro Roubado de forma brutal no banheiro, Corintiano segurava um espeto de alumínio impedindo que eles entrassem no cômodo.

“Ninguém se mexe, ninguém interfere, fica todo mundo tranquilo e deixa os cara lá”, teria dito o preso.

Chocolate

Ao pronunciar os réus para o Tribunal do Júri, em outubro do ano passado, o promotor João Paulo Giovanini Gonçalves não levou em consideração as alegações sobre o suposto “salve” da ADA. No documento, ele destacou trechos de depoimentos de presos que disseram ter sido ameaçados pelo trio a dizer que o homicídio teria sido ordenado por uma facção criminosa.

O promotor diz que, de acordo com um dos detentos, os investigados o chamaram e disseram para “dizer que a facção ADA pediu para matar a vítima e ameaçaram de morte quem não contasse essa mentira”.

Não fica claro na denúncia, nem no relatório de investigação, por que Zoio de Gato, Pesadelo e Corintiano teriam criado a história. Também não há informações sobre quem seriam os presos Cabelo e Ageu, apontados como os “pilotos” da ADA no presídio.

“A motivação do crime foi fútil, pois os acusados mataram Anderson da Silva em razão deste tê-los delatado por terem comido o chocolate pertencente a outro detento”, afirma o promotor João Paulo Giovanini Gonçalves.

O promotor citou depoimentos de testemunhas dizendo que Corintiano costumava roubar chocolates de outro preso, identificado como Jota.

“Sempre que ‘Jotinha’ ia ao banheiro ou ficava sem visão de suas coisas, ele colocava a mão nas coisas dele e comia um chocolate. A vítima pulou e disse que, de fato, tinha visto ‘Corintiano’ comendo o chocolate”, diz o preso.

O Metrópoles questionou a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) sobre a presença de presos da facção Amigos dos Amigos ou outras facções rivais do PCC na Penitenciária Wellington Rodrigo Segura. Até o momento da publicação, não houve retorno.