“Caixão cheio de sonhos”, diz família de brasiliense morto em Londres

A família do  brasiliense Cristopher de Carvalho Guedes (foto em destaque) enviou uma carta para a audiência disciplinar que analisava a morte do jovem de 26 anos atropelado por um policial londrino que avançou o sinal vermelho.

O texto foi lido pelo juiz na audiência, que decidiu expulsar Ian Brotherton, 32 anos, por violar o padrão policial de comportamento profissional. No documento, os familiares de Cristopher falaram que o jovem foi à Inglaterra “com uma mala cheia de sonhos”, mas que recebeu do país um “caixão cheio de sonhos”.


Relembre o caso:

  • Cristopher de Carvalho Guedes morreu em Londres após ser atingido por um carro de polícia que furou o sinal vermelho.
  • Ele estava na Inglaterra havia um mês e trabalhava como entregador em uma moto quando foi atingido.
  • O jovem teve uma costela fraturada e o pulmão perfurado com a colisão.
  • Em fevereiro, o policial foi condenado a 6 meses de prisão e 18 meses de suspensão.
  • Também foi obrigado a cumprir 150 horas de trabalho sem remuneração e está proibido de dirigir por 30 meses.

“Uma família que leva seu filho, seu irmão ao aeroporto com vida, com saúde com 26 anos, recebeu de Londres uma dívida de aproximadamente 100 mil com translado e despesas, recebeu um corpo 22 dias depois da morte, recebeu um caixão com sonhos que jamais serão realizados”, conforme consta no texto.

“É quase impossível descrever o sentimento, mistura de dor, de incapacidade de revolta”, completa a carta. “E horas seguintes recebemos a notícia de sua morte, e mal tivemos  tempo de sentir a dor pois tínhamos que conseguir uma quantia exorbitante para arcar com os custos do translado”.

“Um policial entendeu que poderia passar por um sinal vermelho para ele, simplesmente pelo fato dele ser um policial. Recebemos a notícia do acidente no dia e junto recebemos um vídeo que fizeram para tentar identificar ele, afinal ele era novo em um país gigante”, completou a carta.

Audiência disciplinar

Na audiência dessa segunda-feira (24/3), a Justiça decidiu pela demissão de Brotherton sem aviso prévio, e ele foi colocado na lista de banidos da polícia do Reino Unido.

Brotherton foi acusado de dirigir em alta velocidade na via e de furar um sinal vermelho, atingindo em cheio o brasiliense. O policial se declarou culpado das acusações.

O resultado da audiência vem um mês após a condenação do policial, que, apesar de culpado, foi sentenciado à pena mínima. Os familiares de Cristopher ficaram revoltados com a sentença na época.

“É inacreditável e revoltante uma sentença mínima para um acidente no nível que foi, levando um jovem à morte pela imprudência de um policial treinado”, disse a irmã do brasiliense, Thaisa Guedes.

Diante desse cenário, os parentes escreveram uma carta de três páginas que foi lida na audiência disciplinar pedindo uma punição exemplar. O pedido foi acatado, o que resultou no afastamento de Brotherton.

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Conhecidos da vítima e moradores da cidade organizaram motociata em homenagem a Cristopher

Motocicleta de Cristopher após a colisão
Jovem buscava emprego na Inglaterra
Cristopher morava no Gama antes de se mudar para Londres
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Reprodução/Acervo Pessoal

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Conhecidos da vítima e moradores da cidade organizaram motociata em homenagem a Cristopher

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Motocicleta de Cristopher após a colisão

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Jovem buscava emprego na Inglaterra

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Cristopher morava no Gama antes de se mudar para Londres

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Investigação

O Independent Office for Police Conduct (IOPC), escritório independente que apura a conduta de policiais, concluiu que a morte do brasileiro era uma tragédia evitável.

O órgão destacou que os policiais podem ultrapassar sinais vermelhos e dirigir em velocidade acima da permitida, mas apenas quando as circunstâncias não tragam riscos.

“Nunca se justifica se a maneira de dirigir do policial colocar em risco outros usuários da estrada”, disse a diretora do escritório Amanda Rowe.

O inquérito do órgão foi concluído em abril do ano passado, e o dossiê com provas – câmeras de segurança no corpo e no carro policial, perícia e relato de testemunhas – foi enviado para o Crown Prosecution Service (CPS), o Ministério Público do Reino Unido.

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