Centenas participam de protesto contra o Hamas em Gaza

Centenas de palestinos protestaram contra o grupo radical islâmico Hamas nessa terça-feira (25/3), no norte da Faixa de Gaza, de acordo com vídeos do protesto divulgados em redes sociais. Eles exigiam que o grupo deixe o poder no território e encerre a guerra contra Israel.

Foi uma rara demonstração contra o Hamas, que há muito tempo reprime a dissidência no território, passados 17 meses do início da guerra. Pelo menos uma mensagem convocando uma manifestação circulou nessa terça-feira na rede social Telegram, e outras mensagens de origem desconhecida convocam protestos em vários locais da Faixa de Gaza para esta quarta-feira (26/3).

As pessoas seguravam cartazes dizendo “nós nos recusamos a morrer” e “o sangue de nossos filhos não é barato”. “O povo quer que o Hamas saia” e “parem a guerra” estavam entre as palavras de ordem entoadas pelos manifestantes.

Os vídeos da manifestação, que parecem autênticos, mostram centenas de pessoas, a maioria homens, e entre eles muitas crianças e adolescentes, participando de um protesto antiguerra na cidade nortista de Beit Lahia, fortemente destruída.

“Queremos viver em paz”

Alguns podiam ser ouvidos gritando “Hamas fora!” e “Hamas terrorista”, disseram testemunhas. Outros vídeos pareciam mostrar apoiadores ou membros do Hamas dispersando a multidão. O grupo ainda não se manifestou oficialmente sobre o protesto.

Mohammed, um morador local que participou do protesto, disse à agência de notícias EFE por telefone que a passeata foi espontânea e que os participantes expressaram sua frustração com a guerra contra Israel.

“Os manifestantes exigiram o fim do governo do Hamas e expressaram que querem viver em paz”, afirmou, além de ressaltar que os moradores da cidade criticaram a falta de abrigos contra os ataques das forças israelenses.

Mohammed também disse que muitos moradores temiam represálias do Hamas, mas foram às ruas mesmo assim porque não suportam mais o conflito, e que não houve prisões por parte do grupo islamista. “Os manifestantes não querem o governo atual, eles querem viver em segurança”, explicou.

Norte amplamente destruído

O norte de Gaza é uma das áreas mais devastadas pela guerra. A maioria dos prédios na área, que é densamente povoada, foi reduzida a escombros e grande parte da população se mudou várias vezes para escapar do conflito.

Centenas de milhares de moradores que fugiram para o sul de Gaza no início da guerra retornaram para suas casas em ruínas no norte quando o cessar-fogo entre Israel e Hamas entrou em vigor, em 19 de janeiro.

Desde que Israel retomou seus ataques a Gaza, dizendo que seu objetivo é desmantelar completamente o Hamas, cerca de 800 pessoas, a maioria mulheres e crianças, foram mortas, de acordo com autoridades de saúde palestinas.

Com a retomada dos ataques, as Forças de Defesa de Isral (FDI) emitiram alertas de evacuação no norte da Faixa de Gaza, incluindo a cidade de Beit Lahia.

Fim do cessar-fogo

No início deste mês, Israel interrompeu as entregas de alimentos, combustível, remédios e ajuda humanitária para cerca de 2 milhões de palestinos de Gaza.

Israel prometeu intensificar a guerra até que o Hamas devolva os 59 reféns que ainda mantém – 24 dos quais se acredita estarem vivos. Israel também está exigindo que o grupo abra mão do poder, se desarme e envie seus líderes para o exílio. O Hamas disse que só libertará os cativos restantes em troca de prisioneiros palestinos, um cessar-fogo duradouro e uma retirada israelense de Gaza.

A guerra foi desencadeada pelo ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 a Israel, no qual terroristas palestinos mataram cerca de 1.200 pessoas, a maioria civis, e raptaram 251.

A ofensiva retaliatória de Israel matou mais de 50 mil pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, que não diz quantos eram civis ou combatentes. O bombardeio e as operações terrestres de Israel causaram grande destruição e, no auge, deslocaram cerca de 90% da população de Gaza.

No poder desde 2007

O Hamas obteve uma vitória esmagadora nas últimas eleições palestinas, realizadas em 2006. No ano seguinte ele tomou o poder em Gaza da Autoridade Palestina, dominada pelo movimento secular Fatah, após uma semana de batalhas nas ruas.

Grupos de direitos humanos dizem que tanto a Autoridade Palestina, sediada em Ramallah, quanto o Hamas reprimem violentamente a dissidência, anulando protestos nas áreas que controlam e prendendo e torturando críticos.

Os níveis de descontentamento em relação ao Hamas em Gaza são difíceis de serem medidos. A última pesquisa disponível foi realizada em setembro pelo Centro Palestino de Política e Pesquisa de Pesquisa (PCPSR). Ela estima que 35% dos palestinos em Gaza apoiem o Hamas, e 26%, o Fatah.

O porta-voz do Fatah em Gaza, Monther al-Hayek, pediu ao Hamas no sábado para se afastar do governo para garantir a “existência” dos palestinos na Faixa de Gaza.

Leia mais reportagens no DW, parceiro do Metrópoles.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.