USP diploma estudante de pedagogia morta durante a ditadura militar

São Paulo — A Universidade de São Paulo (USP) diplomará, no próximo dia 3 de abril, a estudante Lígia Maria Salgado Nóbrega, que cursava pedagogia na Faculdade de Educação (Feusp) e foi morta pela ditadura militar brasileira aos 24 anos em 1972, antes mesmo de se formar.

A diplomação faz parte de um projeto maior, a “Diplomação da Resistência”, lançado no final de 2023. O objetivo é conceder diplomas honoríficos aos 31 estudantes da USP que foram vitimados pela ditadura, a fim de reparar as injustiças e honrar a memória dos ex-alunos. A ação é fruto de uma parceria entre a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (Prip) e a Pró-Reitoria de Graduação (PRG).

“O projeto atende a um anseio antigo dos sobreviventes e familiares pelo reconhecimento, por parte da universidade, de que estes estudantes tiveram suas trajetórias tragicamente interrompidas”, afirma o coordenador da diretoria de Direitos Humanos e Políticas de Reparação, Memória e Justiça da Prip, Renato Cymbalista.

Lígia foi perseguida e morta aos 24 anos, vítima da Chacina do Quintino, no Rio de Janeiro, em 1972. Ela e mais dois estudantes — Antônio Marcos Pinto de Oliveira e Maria Regina Lobo Leite de Figueiredo — morreram em um cerco policial a uma casa no bairro do Quintino. Na época, ela estava grávida de dois meses.

A versão oficial dos fatos divulgados pelos órgãos do estado no período sustentava que Lígia morreu após ter sido ferida por disparos de arma de fogo ao reagir à ação dos agentes dos órgãos de segurança. Porém, laudos realizados posteriormente não encontraram pólvora no corpo da estudante. Além disso, testemunhas afirmaram que não houve resistência e não foram encontradas armas no local — o que permite inferir que não houve troca de tiros.

Em 2013, a Comissão da Verdade do Rio de Janeiro apresentou a conclusão das investigações, revelando que os estudantes foram torturados.

Quem foi Lígia

Nascida em Natal, Lígia Maria Salgado Nóbrega viveu desde criança em São Paulo. Em 1957, ela ingressou no curso de Pedagogia na USP e destacou-se como liderança no grêmio estudantil do curso.

Em 1970, a estudante ingressou como militante na Vanguarda Armada Revolucionária (VAR-Palmares) contra a ditadura militar e, por isso, passou a viver clandestinamente e se mudou para o Rio de Janeiro.

Ela morreu em 29 de março de 1972 aos 24 anos, grávida de dois meses, em uma operação policial realizada em uma casa que funcionava como aparelho do VAR-Palmares — episódio que ficou conhecido como Chacina do Quintino.

A ação foi organizada por agentes do Destacamento de Operações e Informações (DOI) I, contando com apoio do Departamento de Ordem Política e Social do Estado de Guanabara (DOPS/GB) e da Polícia Militar. Depois de cercarem o local, os agentes entraram na residência e atiraram contra os estudantes que estavam dentro da casa. Apenas um membro que estava no local sobreviveu, fugindo pelos fundos.

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