O enigma dos anéis do Mediterrâneo: a descoberta que pode revolucionar a oceanografia

Em setembro de 2011, uma equipe de cientistas liderada pela bióloga marinha Christine Pergent-Martini fez uma descoberta intrigante no fundo do mar Mediterrâneo, próximo à Córsega. Durante uma missão de mapeamento do leito marinho, imagens de sonar revelaram uma série de círculos perfeitos, cada um com cerca de 20 metros de diâmetro, espalhados por uma vasta área. Essas formações, descritas como “ovos fritos” devido à sua aparência, intrigaram os pesquisadores, que não conseguiram determinar sua origem ou propósito imediato.

Dois anos após a descoberta inicial, a comunidade científica ainda estava sem respostas concretas sobre a natureza desses anéis. Em 2013, durante uma conferência, os cientistas apresentaram suas descobertas, mas as perguntas continuaram a superar as respostas. Com mais de 1.300 círculos identificados em uma área de quase 15 quilômetros quadrados, a equipe de Christine precisava de mais recursos para continuar suas investigações.

Como são definidos os anéis misteriosos?

O enigma dos anéis do Mediterrâneo: a descoberta que pode revolucionar a oceanografia
Anéis no Mediterrâneo – Foto: Laurent Ballesta

Em 2020, o biólogo marinho Laurent Ballesta se interessou pelos anéis e decidiu investigar mais a fundo. Conhecido por suas explorações subaquáticas extremas, Ballesta mergulhou nas águas da Córsega para explorar o fenômeno. Durante suas investigações, ele e sua equipe descobriram que no centro de cada anel havia estruturas formadas por algas calcárias vermelhas, cercadas por rodolitos, pequenas algas coralinas. Esta descoberta sugeriu que os anéis eram, na verdade, formações vivas.

As amostras coletadas foram datadas por carbono, revelando que os anéis começaram a se formar há cerca de 21.000 anos, durante o último máximo glacial. Naquela época, os níveis do mar eram significativamente mais baixos, permitindo que colônias de algas coralinas crescessem no fundo do mar iluminado pelo sol. Com o aumento do nível do mar, essas algas foram engolidas pela escuridão, colapsando e deixando para trás as formações circulares observadas hoje.

Aqui estão alguns pontos-chave sobre como esses anéis são definidos:

  • Características físicas:
    • Os anéis têm cerca de 20 metros de diâmetro.
    • Cada um apresenta uma mancha escura central.
    • São compostos por algas calcárias vermelhas vivas e rodolitos (pequenas algas coralinas formadoras de recifes).
  • Localização:
    • Estão localizados no fundo do mar Mediterrâneo, a cerca de 120 metros de profundidade.
    • Mais de 1.300 anéis foram detectados em uma área de 15 km².
  • Idade:
    • Análises indicam que os anéis têm aproximadamente 21 mil anos, datando do último máximo glacial.
  • Origem:
    • A hipótese científica mais aceita é que colônias de algas coralinas cresceram em um mar raso e iluminado.
    • Com a elevação do nível do mar ao longo dos milênios, a luz solar deixou de alcançar essas áreas, as algas colapsaram e formaram os anéis.  
  • Importância:
    • Os anéis abrigam um ecossistema único e revelam informações sobre o passado do Mediterrâneo.
    • Eles são considerados testemunhas silenciosas de um passado remoto e lembram que os mares ainda guardam segredos inestimáveis para o futuro da ciência e da conservação ambiental.

Por que proteger esses anéis?

Os anéis não são apenas uma curiosidade geológica; eles representam um ecossistema rico e praticamente intacto. Durante suas explorações, Ballesta e sua equipe descobriram corais raros, caranguejos e peixes escondidos entre as gorgônias. No entanto, a localização dos anéis sob rotas de navegação representa um risco iminente, pois as âncoras de navios comerciais podem facilmente destruí-los.

Em resposta a essa ameaça, Ballesta e outros cientistas propuseram que os anéis fossem oficialmente protegidos. Atualmente, apenas uma parte das formações está dentro de um parque marinho protegido, enquanto o restante continua vulnerável à atividade humana. O conselho de administração do Parque Natural Marinho de Cap Corse e Agriate está trabalhando em uma proposta para restringir a ancoragem de embarcações comerciais na área.

Qual é o futuro dos anéis do mediterrâneo?

Em 2023, Ballesta retornou com uma equipe de cientistas e submarinos para estudos mais aprofundados. A descoberta dos anéis abriu uma nova janela para a história climática do Mediterrâneo e pode ser apenas o começo de uma série de descobertas subaquáticas. Christine Pergent-Martini, que esteve envolvida na descoberta inicial, acredita que ainda há muito a ser revelado sobre o fundo do oceano.

Esses anéis, testemunhas de um passado distante, nos lembram que o fundo do mar ainda guarda muitos segredos. A proteção dessas formações não é apenas uma questão de preservação ambiental, mas também de compreensão de nossa história planetária. A esperança é que, com a proteção adequada, esses anéis continuem a contar sua história por muitos anos.

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