Gasolina causa câncer, diz estudo da OMS

Um estudo recém-divulgado pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc), vinculada à Organização Mundial da Saúde, está colocando em xeque a segurança de algo que faz parte do dia a dia de milhões de pessoas ao redor do mundo: a gasolina automotiva. Publicado neste mês de março de 2025 na prestigiada revista Lancet Oncology, o levantamento classifica o combustível como um agente carcinogênico do Grupo 1 – em outras palavras, há evidências científicas robustas de que ele causa câncer em humanos. Mas até que ponto os milhões de motoristas que trafegam pelas ruas diariamente, além dos trabalhadores que lidam diretamente com esse produto, estão realmente com a saúde em risco?

A pesquisa da Iarc aponta que a exposição à gasolina automotiva, especialmente por meio da inalação de seus vapores, está associada ao aumento do risco de câncer de bexiga e leucemia mieloide aguda. Há também indícios – ainda que menos conclusivos – de ligação com outros tipos de tumores, como linfoma não-Hodgkin, leucemia linfocítica crônica, mieloma múltiplo, síndromes mielodisplásicas e até câncer de estômago e rim.

O artigo, intitulado “Carcinogenicidade da gasolina automotiva e de alguns aditivos”, destaca que os perigos são ainda mais graves para quem trabalha diretamente com o combustível, como frentistas, motoristas de transporte de carga e funcionários das indústrias de refino e distribuição.

No Brasil, o tema não é novidade. Em 2021, um estudo da Fiocruz no Rio de Janeiro já havia acendido o alerta ao medir os níveis de BTEX – compostos tóxicos como benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos – no ar de postos de combustíveis. Os resultados foram preocupantes: trabalhadores expostos a essas substâncias apresentaram maior incidência de leucemia, com destaque para a leucemia mieloide aguda, corroborando as conclusões agora reforçadas pela Iarc.

Diante disso, o Instituto Nacional de Câncer (Inca), que desde 2013 representa o Brasil nas discussões da agência internacional, emitiu um posicionamento enfático: a gasolina automotiva é genotóxica, provoca estresse oxidativo e inflamação crônica, mecanismos que abrem caminho para o desenvolvimento de tumores.

E os motoristas?

Mas a questão vai além dos trabalhadores diretamente expostos. Com milhões de veículos circulando pelas cidades e rodovias do planeta, será que o simples ato de abastecer o carro ou dirigir em meio ao tráfego já representa um risco silencioso à saúde pública? Os vapores liberados nos postos de gasolina, por exemplo, não afetam apenas os frentistas – motoristas e até pedestres nas proximidades podem estar inalando essas partículas cancerígenas sem nem sequer perceber.

E o que dizer das grandes metrópoles, onde a poluição veicular é uma constante? Até que ponto a dependência global de combustíveis fósseis está cobrando um preço que vai além do bolso e atinge diretamente a nossa expectativa de vida?

O Inca sugere medidas para mitigar o problema: reduzir a exposição ocupacional, investir em tecnologias como sistemas de recuperação de vapores nos postos e, a longo prazo, substituir a gasolina por alternativas menos nocivas. Mas essas soluções esbarram em desafios práticos e econômicos. Substituir um combustível que move o mundo não é tarefa simples, e modernizar processos exige investimentos que nem todos os países – ou empresas – estão dispostos a fazer.

Enquanto isso, a população segue exposta, muitas vezes sem acesso a informações claras sobre os riscos que corre.

Fica a dúvida: estamos diante de uma bomba-relógio de saúde pública ou de um alerta que, na prática, afeta mais um grupo específico de trabalhadores do que o cidadão comum? Especialistas e autoridades precisam esclarecer até onde vai o perigo real para os milhões de motoristas e moradores de áreas urbanas. Mais do que isso, é urgente que governos, indústrias e a sociedade civil se unam para transformar esse diagnóstico em ações concretas.

Afinal, se a gasolina automotiva é mesmo uma ameaça comprovada, não basta apenas saber – é preciso agir antes que os números de casos de câncer falem por si mesmos.

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