A centro-direita e o dilema da anistia (por Leonardo Barreto)

Há um dilema embutido na anistia que a centro-direita ainda não sabe resolver. Todos reconhecem que Jair Bolsonaro tem votos e liderança para exercer um papel importante em 2026. Mas pouca gente quer vê-lo candidato a presidência de novo.

O desafio do centrão tem sido prestar solidariedade a Bolsonaro sem reabilitá-lo. A saída de fazer a anistia apenas para os participantes das manifestações é uma opção. Mas há insegurança em apresentá-la sem que, com isso, se abra uma janela para que a discussão seja dominada pelo ex-presidente.

Além disso, há outros assuntos mais urgentes sobre a mesa. Um exemplo é a fusão entre PP e União que criará, se for efetivada, uma joint venture política de R$ 1 bilhão se somado os fundos eleitorais de ambos, uma potência competitiva para eleger deputados, senadores e até bancar uma campanha presidencial.

Outro aspecto é que o PL disputa eleitores conservadores com os outros partidos de centro-direita. Um líder do Republicanos confidenciou que o partido, hoje, não perde deputados para o PT ou para a esquerda, mas para outros políticos da direita, em especial o partido de Bolsonaro.

Por último, mesmo que nenhum político goste de ver um colega preso e reconhecendo que um julgamento expresso e terminando com uma pena dura empodera ainda mais o STF, o que não interessa ao ecossistema político, o fato é que a centro-direita pode enxergar no episódio uma oportunidade para superar a liderança de Bolsonaro e, inclusive com a sua benção, organizar uma outra frente calçada nas lideranças partidárias para montar uma chapa competitiva em 2026.

A não ser que a causa dos presos pelos eventos de 8 de janeiro ganhe as ruas e leve a um estado de comoção que seja impossível de ser ignorado pelo Congresso, a tendência é cozinhar o projeto da anistia. E mesmo que o julgamento de Bolsonaro domine a superfície e faça muita espuma, abaixo da lâmina da água, as preocupações dos atores são outras.

 

Leonardo Barreto é doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília 

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