MPF denuncia 13 ex-executivos da Americanas por fraudes bilionárias

O Ministério Público Federal (MPF) apresentou, na segunda-feira (31/3), denúncia contra 13 ex-executivos e ex-funcionários da Americanas por supostas fraudes na companhia, cujo prejuízo é estimado em cerca de R$ 25 bilhões. A decisão foi tomada após a Polícia Federal (PF) indiciar os envolvidos.

Entre os denunciados pelo MPF, estão o ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez, além de Anna Saicali (ex-CEO da B2W) e dos ex-vice-presidentes Thimoteo Barros e Marcio Cruz.

Também fazem parte da lista os ex-diretores Carlos Padilha, João Guerra, Murilo Correa, Maria Christina Nascimento, Fabien Picavet, Raoni Fabiano, Luiz Augusto Saraiva Henriques, Jean Pierre Lessa e Santos Ferreira e Anna Christina da Silva Sotero.

Todos eles foram denunciados pelos crimes de associação criminosa, falsidade ideológica e manipulação de mercado. Nove pessoas também foram denunciadas por informação privilegiada.

O que diz o MPF

De acordo com a denúncia apresentada pelo MPF, Gutierrez teria sido o principal responsável pelo esquema fraudulento, planejando, ordenando e executando as fraudes. O executivo trabalhou na Americanas por quase 30 anos, dos quais 20 anos como CEO.

Segundo o MPF, Gutierrez teria executado pelo menos 28 manobras fraudulentas com o objetivo de aumentar ou manter elevada a cotação e os preços dos valores mobiliários da Americanas, em busca de vantagens indevidas.

As irregularidades, ainda de acordo com a denúncia, teriam ocorrido entre fevereiro de 2016 e dezembro de 2022 – quando Gutierrez deixou o comando da varejista.

Na denúncia, o MPF destaca e-mails entre executivos da companhia nos quais seriam discutidos ajustes e fraudes nos resultados financeiros, além de comparações entre os dados reais e os números “maquiados” divulgados ao mercado.

A denúncia também apresenta conversas, por WhatsApp, entre os então executivos da Americanas sobre como esconder as informações verdadeiras das auditorias.

“Não resta nenhuma dúvida que Miguel Gutierrez tinha pleno conhecimento das fraudes praticadas dentro do grupo Americanas. O arquivo não deixa nenhuma dúvida sobre a origem e extensão dos problemas enfrentados pelo grupo, e que ele sabia de todas as manobras fraudulentas praticadas, incluindo as verbas fictícias de VPC [Verba de Propaganda Cooperada] e as operações não declaradas de risco sacado”, afirma o MPF.

O que dizem os denunciados

Até o momento, a defesa de Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas, não comentou a denúncia apresentada pelo MPF. Em fases anteriores da investigação, os advogados de Gutierrez disseram que as supostas fraudes envolvendo seu cliente jamais foram comprovadas.

A defesa de Timotheo de Barros afirmou que há “possibilidade de outra acusação midiática em curso”. “De novo, vamos examinar a acusação e, como sempre, procurar demonstrar na Justiça, com mais elementos, o que denota rápida leitura: açodamento dos acusadores e a ausência de imparcialidade no exame dos fatos”, afirmou o advogado de Barros.

A reportagem não conseguiu contato com as defesas dos outros denunciados.

O Metrópoles entrou em contato com a Americanas, que também ainda não se manifestou sobre o caso. O espaço segue aberto.


Veja a lista de denunciados pelo MPF

  • Miguel Gutierrez (ex-CEO da Americanas)
  • Anna Saicali (ex-CEO da B2W, responsável pela área digital)
  • Timotheo Barros (vice-presidente)
  • Marcio Cruz (vice-presidente)
  • Carlos Padilha (ex-diretor)
  • João Guerra (ex-diretor)
  • Murilo Corrêa (ex-diretor)
  • Maria Christina Nascimento (ex-diretor)
  • Fabien Picavet (ex-diretor)
  • Raoni Fabiano (ex-diretor)
  • Luiz Augusto Saraiva Henriques
  • Jean Pierre Lessa e Santos Ferreira
  • Anna Christina da Silva Sotero

Rombo contábil

No dia 11 de janeiro de 2023, a Americanas informou ao mercado que havia detectado “inconsistências contábeis” em seus balanços corporativos. Até então, o rombo era estimado em cerca de R$ 20 bilhões. Era o início do desmoronamento de uma das companhias mais tradicionais do país.

O episódio, hoje apontado como o maior escândalo corporativo da história do Brasil, deflagrou uma série de acontecimentos que levaram a Americanas à lona. Mais de 2 anos depois, a varejista ainda está longe de uma recuperação total.

Na semana passada, o presidente da Americanas, Leonardo Coelho, admitiu que a companhia ainda passará muito tempo “em modo de recuperação”, após o escândalo contábil envolvendo a companhia em 2023.

“Temos, pelo menos, uns cinco ou seis trimestres pela frente ainda em modo de recuperação”, disse o executivo, ao comentar a derrocada das ações da empresa na Bolsa de Valores do Brasil (B3) após a divulgação dos resultados do período entre outubro e dezembro de 2024.

“Temos de lembrar o tamanho da crise no início de 2023”, continuou Coelho. “Sempre dissemos que era um processo longo. Não se consegue fazer uma recuperação que deixe a companhia preparada para o longo prazo acelerando além do que ela suporta”, completou.

Segundo a diretora financeira da Americanas, Camille Loyo Faria, a companhia espera deixar o processo de recuperação judicial até o fim de 2026. A expectativa é a de que, nesse período, a varejista cumpra “99% do plano” de reestruturação.

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