PF vai investigar funcionários do Santander e Itaú por fraude na Americanas

A Polícia Federal (PF) vai investigar se funcionários de grandes bancos participaram do esquema que resultou no rombo de mais de R$ 20 bilhões na Americanas.

A nova investigação da PF tem como um dos focos as informações prestadas por Fabio Abrate, ex-diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Americanas.

Na segunda (31/3), com base na primeira investigação conduzida pela PF, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou 13 ex-executivos e ex-funcionários da Americanas por supostas fraudes na companhia.

Funcionários de ao menos dois bancos, o Santander e o Itaú, estão na mira. Os bancos em si não serão investigados em um primeiro momento, apenas os funcionários.

Abrate assinou um acordo de colaboração premiada e apontou para a participação de funcionários de grandes bancos em ações que resultaram na fraude contábil bilionária.

De acordo com o delator, os funcionários dos bancos, assim como diretores da Americanas, atuaram de forma intencional para ocultar do balanço da empresa as dívidas do risco sacado.

Fachada da Lojas Americanas do Setor Comercial Sul em Brasília
Fachada da Lojas Americanas do Setor Comercial Sul, em Brasília

O risco sacado é uma operação normal de empresas que atuam no varejo em que se faz um empréstimo com um banco para pagar o fornecedor.

A empresa, então, ganha condições melhores para gerir seu fluxo de caixa. A fraude nas Americanas consistia em lançar incorretamente essa informação no balanço.

Segundo Abrate, isso só seria possível por causa do conhecimento de funcionários dos bancos. E, não fosse o consentimento desses funcionários, a dívida relacionada ao risco sacado teria aparecido bem antes de estourar o rombo de bilhões na Americanas.

Na investigação conduzida pela Polícia Federal e que resultou na denúncia pelo Ministério Público Federal contra 13 ex-diretores da Americanas já eram citadas conversas em um grupo que mostravam a atuação de Abrate junto a funcionários do Itaú e do Santander.

Por causa dessas conversas, a PF afirmou que a “audácia do grupo criminoso” formado por ex-diretores da Americanas era “tão grande” que eles cooptaram funcionários dos dois bancos.

“Eles (diretores da Americanas) chegavam a cooptar funcionários dos Bancos para que alterassem as cartas de circularização, de modo a encobrir as operações de Risco Saco, garantindo assim a continuidade das fraudes contábeis e a não identificação pelas auditorias”, afirmou a PF ao pedir buscas e prisões de investigados no caso.

“No caso mostrado a seguir, as cartas de circularização originais constaram as operações de Risco Sacado feitas pelos Bancos Itaú e Santander para o Grupo Americanas, e como tais operações não constavam oficialmente nos balanços, que eram fraudados, com valores irreais, as cartas de circularização não podiam mencionar tais operações, sob pena de serem identificados pelas Auditorias”, disse a PF.

Por meio de nota, o Santander afirmou que não possui “ingerência, supervisão ou responsabilidade sobre as demonstrações financeiras da Americanas.”

“A própria Companhia informou, em fato relevante de 13/06/2023, que as demonstrações foram fraudadas pela diretoria anterior. O Banco sempre informou os saldos das operações da empresa nas cartas de circularização e ao Sistema Central de Risco do Banco Central, que é uma entre as possíveis fontes de auditagem”, diz a nota.

“Sendo assim, o Santander repudia qualquer insinuação contrária à lisura e correção em sua relação com a empresa, reiterando ter sido também vítima das fraudes.”

O Itaú Unibanco negou, por meio de nota,  “qualquer participação, direta ou indireta, na fraude contábil que a Americanas sofreu.”

“O banco sempre prestou às auditorias e aos reguladores informações corretas e completas sobre as operações contratadas pela empresa, conforme legislação vigente e melhores práticas de mercado”, diz o banco.

De acordo com o Itaú, o informes enviados às auditorias “sempre alertavam para a existência das operações de risco sacado e da exposição de crédito da companhia aos fornecedores.”

“Os diretores da Americanas envolvidos na operação interagiram com representantes do Itaú no sentido de retirar os alertas, como admitiu o ex-diretor Fabio Abrate em seu depoimento. O banco nunca concordou com esse pedido e, diferentemente do que informou Abrate, manteve o texto que sinalizava a exposição da companhia ao risco sacado”, afirma.

Segundo a instituição, as operações de risco sacado foram interrompidas por 6 meses por causa dos problemas na Americanas.

“O Itaú reforça que a elaboração das demonstrações financeiras é de responsabilidade única e exclusiva da administração da empresa e repudia qualquer tentativa de responsabilização de terceiros por falhas ou fraudes nessas demonstrações”, conclui a nota.

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