A eleição para juiz no Supremo Tribunal do estado de Wisconsin surprendeu republicanos nos EUA e serviu como um incentivo aos democratas que estão de olho nas cadeiras da Câmara na eleição de meio de mandato. Apesar dos esforços de Elon Musk, com milhões de dólares investidos na campanha do republicano Brad Schimel, a democrata Susan Crawford foi a vencedora do pleito.
Para entender os impactos políticos dessa vitória, o Metrópoles ouviu o doutorando em relações internacionais pelo Instituto San Tiago Dantas Emanuel Assis.
Assis destaca que Wisconsin é um estado muito importante para determinar a balança do jogo político nos Estados Unidos, porque é um “swing state”, ou seja, ora ele pode se comportar favoravelmente aos democratas, ora aos republicanos.
“É um estado que tem um número até considerável de delegados, são dez, que podem ser importantes para uma vitória, principalmente em eleições apertadas, como as últimas estão sendo”, explica o doutorando.
O especialista destaca que a vitória da candidata democrata surpreendeu ainda mais, pois nessas últimas eleições, a vitória foi do Trump no Wisconsin. Apoiada por democratas, Susan obteve 55% dos votos, frente a 45% do republicano.
Termômetro para os primeiros meses de Trump
Segundo Emanuel Assis, “as eleições para a Suprema Corte (do Wisconsin) foram tão importantes, porque as próprias candidaturas, tanto a da Susan Crawford quanto do Brad Schimel, foram altamente financiadas, tanto do lado democrata quanto do lado republicano”.
“Do lado da Susan, a gente viu uma forte campanha do Obama e foi injetado também muito dinheiro. Já do lado do Brad Schimel, a gente vê um apoio do Trump e, principalmente, do Elon Musk, que foi pessoalmente, inclusive, ao estado do Wisconsin apoiar a candidatura do Brad, fazer campanha e financiar”, diz o especialista.
Os levantamentos mostram que a participação da população nas eleições tiveram um aumento superior a 20%. Em 2023, 1,8 milhão de votos para a Suprema Corte do estado foram computados, e neste pleito mais de 2,3 milhões de pessoas votaram.
“A eleição está realmente sendo vista como um termômetro para determinar a posição do eleitorado diante dos primeiros meses do governo Trump”, explica Assis.
A alta participação do eleitorado nas eleições no Judiciário de Wisconsin, bem como a vitória de uma candidata altamente próxima dos democratas e com agendas muito liberais poucos meses após a vitória do republicano no estado “mostram uma mudança na posição do eleitorado em pouco tempo de governo Trump”.
Campanha declaradamente liberal
Segundo o especialista, a agenda da candidata democrata para a Suprema Corte do Wisconsin é “declaradamente liberal”. A magistrada teve o apoio, por exemplo, do Planned Parenthood, uma rede de clínicas de aborto nos Estados Unidos.
“Ela trouxe uma campanha que atacava a posição do Schimel na agenda de aborto e demonstrava como o Schimel é próximo de Musk, de Trump e de todo o conservadorismo, destacando o que uma vitória dele na Suprema Corte traria para o Estado, que contaria com uma maioria conservadora na Suprema Corte”, diz Emanuel Assis.
A vitória da Susan manteve essa maioria liberal de 4 a 3, estabelecida em 2023. A próxima eleição para a Suprema Corte é só em 2028. Ou seja, aponta Assis, “os próximos três anos vão ser de maioria liberal na Suprema Corte do Wisconsin”.
Musk: problema ou solução?
O especialista aponta que a presença tão intensa de Elon Musk no governo e na campanha podem ser um dos motivos da derrota republicana. A saída de Musk do governo já vem sendo ventilada pela mídia no país.
“A derrota (em Wisconsin) mostra que uma parte do eleitorado pode estar retirando seu apoio já nos primeiros meses do governo Trump. Principalmente, devido à presença do Musk na administração com toda a política de cortes de gasto e de ataques à democracia, à Constituição, que ele e Trump vêm promovendo”, diz Emanuel.