O tarifaço de Trump, desmatamento, petróleo, Plano Safra e política no Pará: a entrevista do senador Zequinha Marinho

O senador Zequinha Marinho foi o entrevistado ao vivo do programa Linha de Tiro, na última quinta-feira, 3. Ele foi sabatinado pelos jornalistas Val Mutran e Juscelino Taketomi, além do historiador e cientista político Elson Monteiro, com mediação do jornalista Carlos Mendes. O programa, que alcançou grande sucesso, com dezenas de milhares de acessos pelas plataformas digitais do portal Ver-o-Fato, abordou o projeto de reciprocidade tarifária e ambiental do senador em resposta à decisão do presidente norte-americano Donald Trump de impor tarifas aos produtos brasileiros. Marinho também falou sobre o Plano Safra, desmatamento na Amazônia, exploração de petróleo na Margem Ocidental da foz do Amazonas, a política no Pará e seu destino político em 2026.

Carlos Mendes: Senador, primeiro vamos falar sobre a aprovação desse projeto. Como foi gestado isso? Me parece que o senhor já vinha maturando esse projeto até antes da era Trump, que agora veio com a questão de tarifar, numa espécie de revanche, o que o Brasil tarifa em relação aos Estados Unidos, avisando que dobraria qualquer tarifa caso o governo brasileiro não se enquadrasse dentro daquilo que o governo Trump hoje designa como norma ou orientação nos Estados Unidos. Então, senador, como foi que tudo isso começou até chegar, ontem, à aprovação final do projeto, que, acredito, até amanhã, segundo a imprensa nacional está divulgando hoje, o presidente Lula estará sancionando?

Zequinha Marinho: Pois é, vamos lá. Em 2023, a União Europeia retaliava muito o Brasil com medidas na questão do comércio, alegando problemas ambientais aqui no Brasil. Eles não conseguem fazer muita coisa por lá, mas escondem suas dificuldades e apontam o dedo para a gente, dizendo que nossa produção do agro, tanto na pecuária quanto na agricultura, não é sustentável. E o que percebemos, somente no novo governo, é que nossos negociadores — Ministério do Meio Ambiente, ministra Marina, pessoal desse nível — sentam na mesa para dizer “amém”, “sim, senhor”, “vamos cumprir”. Que negociador é esse que não sabe nem expor, usar as ferramentas que tem? Por exemplo, a nossa vantagem comparativa do ponto de vista ambiental em relação, principalmente, à Europa, que é um continente antigo — e quanto mais antigo, mais complicado no setor ambiental. Então, precisamos de uma legislação que permita ao representante sentar à mesa como uma nação soberana, não como uma colônia com esse espírito vira-lata, achando que todo mundo aqui é errado. Tem que parar com isso.

O projeto quer resgatar essa questão da soberania nacional. Precisamos negociar de igual para igual. O sentido moral, lá no fundo da história, é exatamente esse. Por exemplo, a França acusa o Brasil: “Vocês estão desmatando para produzir”. Olha, eu não conheço tanto desmatamento assim. Desmatamento é uma questão séria, complicada. Estou em Marabá agora, e ando de carro por esse estado — o Val André me conhece há muito tempo. Duvido que tenha alguém na política ou fora dela que conheça esse estado como eu, andando de carro. Eu não vejo esse desmatamento todo acontecendo. Há um crime aqui, outro ali. Onde tem gente, tem gente boa e tem gente fora da lei. Mas isso não é regra, é exceção. E, por ser exceção, precisamos saber falar sobre isso.

Vamos lá, Carlos Mendes. Vegetação original: o Brasil mantém, nesse momento, 66% do seu território com cobertura original. A França dá conta de quanto? Não chega a 10%. Eu disse: quanto mais velho o país, mais complicado é nesse aspecto. Outra vantagem comparativa: nossa matriz energética limpa. Quase 90% da nossa energia tem matriz limpa. Temos pouca coisa de carvão mineral em Santa Catarina produzindo energia; o resto é hidrelétrica, fotovoltaica, eólica. O Brasil tem uma matriz energética excelente, ninguém nos supera nisso. Se formos além, os governos — federal, estadual ou municipal — têm reservas ambientais. O Brasil chega a 30% do território com cobertura de reservas públicas, além dos mais de 2 milhões de hectares que os fazendeiros e produtores rurais mantêm em suas propriedades. O que esses caras têm lá? Nada disso. Um percentual que não chega a 10% de reserva pública.

Se você analisar o passivo ambiental das nações em relação ao efeito estufa, CO2 e emissões, nós emitimos muito? Emitimos. Mas quem são os grandes responsáveis pelo passivo acumulado na atmosfera, que causa tantos danos, segundo os cientistas dessa área? A China, com quase 35% desse passivo. Em segundo, os Estados Unidos. Terceira, a União Europeia. Quarta, a Índia. Aí você desce na lista até chegar aqui perto do chão e encontra o Brasil com 2,7%. Um negociador que não sabe articular essas vantagens numa mesa e fica só aceitando imposições e retaliações, pelo amor de Deus! Essa lei vem para dar uma sacudida e dizer: “Cara, você representa um país sustentável em toda a sua cadeia produtiva”. Esse foi o objeto inicial.

O projeto foi aprovado agora por um substitutivo. Por quê? A senadora Tereza Cristina e todos nós concordamos que a proteção, o debate, não seria só ambiental, mas também fiscal e tributário. O Brasil e o mundo precisam conversar sobre isso. E me aparece, em última hora, o Trump com esse “tarifaço”. Ele tem lá suas razões — cada um sabe onde o sapato aperta —, mas não pode, unilateralmente, começar a fazer coisas complicadas. É uma lei que não gostaríamos de usar. É o tipo de arma que você tem, mas não quer usar. Mas, se um dia for preciso, que a gente tenha essa carta na manga para dizer: “Eu também tenho limites aqui, e meu país, que vende e compra de você, tem regras para esse jogo”. Vamos jogar de acordo com as nossas regras. Essa é a moral da história.

Carlos Mendes: Perfeito. Val Mutran, sua pergunta ao senador Zequinha Marinho.

A China e as terras degradadas na Amazônia

Val Mutran: Boa noite, senador. Boa noite a todos. Sabemos da dificuldade de aprovar uma matéria dessas, que, por incrível que pareça, num cenário político tão polarizado como o que vivemos agora, conseguiu unanimidade no Senado e uma votação simbólica na Câmara, mesmo sob pesada obstrução do PL e do Novo. Parabéns pela aprovação. O Brasil realmente não tinha uma salvaguarda para esse tipo de negociação e agora tem, com a sanção presidencial do seu projeto amanhã. Agora, existe um outro aspecto, de ordem econômica, senador, que eu queria que o senhor comentasse. Será o grande problema que teremos não com os Estados Unidos — já que estamos enquadrados na taxação mínima anunciada ontem pelo presidente Trump —, mas com nosso grande parceiro, a China. A China vai ter que fazer um derrame de mercadorias, uma vez que detém 35% da manufatura global, e vai sobrar mercadoria que não será exportada para os Estados Unidos devido às tarifas, inundando a América do Sul e outros grandes mercados. Qual o seu ponto de vista sobre as discussões no Senado, presidindo a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária, sobre o temor desse derrame de mercadorias a baixo custo, inclusive abaixo do custo da matéria-prima, inundando o mercado sul-americano?

Zequinha Marinho: Olha, Val, é uma coisa que a gente tem que estar atento. Vai mexer violentamente na economia. A China, nesse momento, também descredenciou umas duas centenas de frigoríficos nos Estados Unidos que mandavam carne para lá. Isso abre uma oportunidade para o Brasil entrar nesse mercado, aumentar o número de frigoríficos exportadores para a China e ganhar mais dinheiro. Em contrapartida, como você disse, a China, ao não vender para os Estados Unidos em função da taxa alta — que ficou em torno de 54% na média, inviabilizando a relação comercial —, vai buscar outros mercados. Eu prefiro esperar para ver como encararemos esse mercado e como ele vai ficar. É melhor não nos precipitarmos. Se a oferta for maior que a procura, lamentavelmente os preços vão cair de forma vertiginosa para evitar um caos por lá. Mas é algo que eu gostaria de aprofundar tecnicamente, nos espaços adequados, principalmente no MIDIC, com nosso vice-presidente Alckmin, que vai estar preocupado com isso, e nas Relações Exteriores. É um capítulo que está se aproximando, praticamente inevitável, e precisamos ver como vamos tratar a China, nosso maior parceiro comercial no mundo. Ontem mesmo recebi uma comissão chinesa no gabinete, interessada em trabalhar aqui no Brasil, por exemplo, recuperando 20 milhões de hectares de terra degradada. Isso nos interessa, não é? É muito dinheiro para investir nessa área. Brasil e China têm uma relação histórica de muitos negócios.

Carlos Mendes: Elson, tua pergunta ao senador.

Insegurança alimentar no Pará

Elson Monteiro: Boa noite, senador Zequinha Marinho. O Brasil realmente tem alternativas. Além da União Europeia, com o acordo do Mercosul, tem os BRICS, com a Rússia e a China, que são grandes importadores — a China sendo nossa maior parceira comercial. A aprovação dessa lei foi importante para criar uma defesa legal do Brasil. Mas vejo que o Trump não vai jogar solto e pode recuar em algumas coisas. Por exemplo, no Canadá houve um recuo: ele foi bloqueado no Senado americano, onde tem maioria republicana pequena, de dois senadores, mas perdeu por quatro votos. O Canadá não será taxado. Isso pode se estender, porque setores do empresariado americano que perderão negócios bilionários com a China vão pressionar. Daqui a dois anos, com a renovação parcial do Congresso, os democratas podem ganhar maioria se algumas medidas desagradar eleitores do Trump. Não sei se esse processo será tão radicalizado quanto ele ameaça. Aqui na Amazônia, temos problemas concretos. Concordo parcialmente quando o senhor diz que há pressões da Europa por interesses econômicos, como os agricultores franceses que não querem o acordo com o Mercosul, pois o Brasil pode inundar a União Europeia com produtos que competem com a França, levantando a questão ambiental para barrar isso. Mas temos questões reais aqui: o garimpo polui rios, envenena peixes, gera doenças. A questão ambiental é válida para a qualidade de vida. O desmatamento precisa ser cuidadoso, com desenvolvimento sustentável. Como explorar petróleo no litoral do Amapá, por exemplo? Ainda não há energia alternativa suficiente, mas a exploração não pode ser predatória como no passado. Como o senhor vê essas questões como senador da Amazônia?

Zequinha Marinho: Voltando à questão do Trump: aqui no interior, brincamos que o produtor rural enche um caminhão de abóboras de modo esquisito, e você jura que elas vão cair, mas elas se encaixam e não há prejuízo. O Trump carregou um caminhão de abóboras e vai tentar não deixar cair. Precisa de muito entendimento, conversa e construção. Com o Canadá, são vizinhos, têm muito em comum; a regra não pode ser igual a de outros países, senão o prejuízo seria infinito. Quanto às questões ambientais na Amazônia, precisam ser levadas a sério, no terreno da sustentabilidade: ambiental, social e econômica. Não se mantém esse tripé com apenas uma ou duas partes. Tudo que o governo fizer tem que considerar isso.

No Pará, segundo o IBGE, somos o estado com maior insegurança alimentar grave no Brasil — fome, em miúdos. Como um estado fértil, com chuvas e estiagens no tempo certo, chega a isso? A fome está na periferia das cidades, onde só se come com dinheiro. Quem trabalha pela questão ambiental também precisa trabalhar o social e o econômico para equilibrar o jogo. O governo faz ações inconcebíveis na questão ambiental: só repressão, comando e controle, sem política definida além disso. Isso não se sustenta. No Pará, temos 1.138 assentamentos, 247 mil famílias assentadas. Como um estado assim tem pobreza e fome aumentando? Quanto mais Bolsa Família, mais pobreza, diz o IBGE. A política ambiental só foca em um aspecto, não entra no debate econômico — como essas famílias vão viver? — nem no social, com qualidade de vida. O Ibama prende, detona, mas não vai além. Não tem futuro assim. Precisamos repensar para fazer algo que dê certo e seja sustentável.

Carlos Mendes: Perfeito. Agora, a pergunta do Juscelino Taketomi, de Manaus. Tenho certeza de que o Amazonas, nosso vizinho, é irmão gêmeo do Pará no sofrimento: uma região riquíssima com índices de pobreza colossais, semelhantes a muitos países africanos. Juscelino, os produtos amazônicos estão incluídos na tarifa de 10% do Trump?

Amazonas e Pará na bioeconomia

Juscelino Taketomi: Obrigado, Carlos. Senador Zequinha Marinho, boa noite. Parabéns pela vitória, nossa vitória no Congresso. Fazendo minhas as palavras do Carlos, gostaria que o senhor se manifestasse sobre o “tarifaço” do Trump. Dizem que a tarifa de 10% é extraordinária para o Brasil. Acho que sim, mas não 100%. A Embraer, por exemplo, que tem fábrica nos EUA, paga tarifa zero lá e não está gostando disso, pois vai pagar um preço alto. Isso pressupõe que precisamos de bons negociadores, não é? Como o senhor acha que deveríamos negociar para que estados como Amazonas e Pará lucrem com fertilizantes, carnes, soja, bioeconomia, aproveitando o vácuo da crise entre EUA e China? Como o governo pode negociar para que nossa região seja contemplada?

Zequinha Marinho: Quando o produto tem tarifa alta para entrar num país, fica mais caro. Os EUA têm uma população com poder aquisitivo bem maior que o nosso. Não sei quanto isso impacta na produção, mas temos que ganhar esse mercado mesmo com a taxa, pela qualidade e importância do produto. Exportamos minério, algo que poucos têm como nós. Quando os estoques lá baixarem, voltarão a comprar, porque não temos como não vender. Subiu 10%, encarece o produto final lá, e quem paga é a população americana. Eles vão chiar primeiro. Nós podemos chiar no volume de exportação; o mercado pode ressentir um pouco, achar caro, demorar a comprar, mas depois assimila, e continuaremos vendendo. Nossa taxa não é tão ruim quanto a de outros países, que subiu demais e compromete as vendas.

Madeira taxada

Carlos Mendes: Senador, entre os produtos na taxa de 10% do Trump, a madeira está incluída, né? Principalmente a do Pará.

Val Mutran: Está incluída, Carlos. Qualquer produto brasileiro. E tem uma sobretaxa de 25% sobre minério de ferro e aço.

Carlos Mendes: Isso beneficia ou prejudica os madeireiros aqui? Enfrentamos quedas constantes nas exportações. Como isso afeta as exportações de madeira do Pará? Outro número indica que 76% a 80% da madeira exportada da Amazônia, sobretudo do Pará, teria origem ilegal. Isso existe ou é mito?

Zequinha Marinho: Se os estoques internacionais estiverem altos, nossas vendas caem. Vai demorar até baixarem para exportarmos como antes. Não facilita, dificulta. Se os estoques estiverem baixos, continuaremos vendendo, mas não no mesmo ritmo. Sobre a ilegalidade: antigamente, com pouca tecnologia, era mais fácil exportar madeira ilegal. Hoje, com os critérios e a tecnologia, o madeireiro precisa de muita sorte para conseguir. A madeira no pátio da serraria tem rastreabilidade, como um código de barras. Com um mínimo de fiscalização, identifica-se madeira ilegal. Pode existir quem burle, mas está muito difícil. As regras são mais rígidas, a tecnologia aumenta, e embarcar carga exige cumprir obrigações para garantir legalidade no destino.

O Plano Safra

Carlos Mendes: Val, sua pergunta.

Val Mutran: Senador, tenho duas questões que considero fundamentais para o senhor esclarecer aos seus eleitores e a nós aqui no programa. Apenas informando que o senhor foi vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária até o ano passado — não permaneceu no cargo por uma limitação estatutária —, mas, para o público, a Frente Parlamentar da Agropecuária é a mais poderosa e organizada com assento no Congresso Nacional. O senhor é uma grande liderança do setor. Queria lhe perguntar como está essa encrenca da ampliação dos recursos para o Plano Safra, que foram interrompidos de maneira irresponsável pelo governo federal. E também sobre a interferência do ministro Flávio Dino na aplicação das emendas dos congressistas: o quanto isso afeta o Brasil em termos de transferência de recursos diretamente às prefeituras, enquanto o mundo todo, inclusive os Estados Unidos, corre atrás de desburocratizar a aplicação de recursos públicos, e aqui insistimos em dificultar o uso do dinheiro do gerador de impostos, o cidadão brasileiro? Comente esses dois temas.

Zequinha Marinho: Interessante. Primeiro, o Plano Safra, Val. Você sabe que ele existe desde 1996, quando o governo brasileiro decidiu criar esses pacotes de recursos. Não são baratos, mas são interessantes. Para o agricultor de médio e grande porte, as taxas variam de 7% a 12%, que são altas para a agricultura, mas ele não tem alternativa e corre atrás. Já na agricultura familiar, sim, há incentivo real, com renúncia fiscal, porque as taxas vão de 1% a 3%, enquanto na de escala sobem de 7% a 12%, dependendo da linha que o governo quer financiar. Há linhas mais caras e outras mais baratas.

O que aconteceu agora com o Plano Safra? O governo suspendeu, depois trouxe uma medida provisória de 4 bilhões, quando precisava de 20. Cada governo tem sua forma de ver o mundo. O governo de esquerda, naturalmente, não vê o agro com bons olhos, mesmo ele representando muito para o Brasil: 52% de tudo que exportamos vem do agro, um terço dos empregos está no setor, e quase 30% do PIB também. Deveria ser tratado com mais carinho, mas lamentamos que o governo não tenha essa simpatia. Tanto que separou a agricultura de escala da familiar, criando um ministério mais ligado às discussões do MST para atender essas demandas, que no outro ministério eram difíceis de abordar. Acreditamos que o governo precisa refletir melhor sobre o agro, porque ele merece, e evitar transtornos como essa suspensão recente. É preciso cumprir o plano, porque um governo em que a sociedade não acredita fica difícil. Esse tipo de recado pode gerar problemas maiores no futuro, além da mera suspensão de uma linha de crédito.

O setor fica atento, e quem quer atrair investimentos externos precisa prestar atenção nisso. Veja o Pará: com a taxação do agro pelo governo estadual, perdemos competitividade. O Pará tem capacidade para 9 milhões de hectares de plantio de grãos, quase como Mato Grosso, usando áreas degradadas sem derrubar uma árvore. Hoje temos 1,2 milhão;还有8 milhões a crescer. Para isso, precisamos de investidores e produtores. Com a lei 10.837, ninguém vinha mais, e os daqui não se sustentavam. Felizmente, o erro foi reconhecido e cancelado, mas na mineração ainda há problemas: dois itens dificultam — ou o cara trabalha só para pagar, ou fecha. O Plano Safra precisa ser honrado. O setor quer 577 bilhões de reais. Convidamos o ministro Carlos Fávaro para falar na comissão sobre os planos do governo, que sinaliza algo entre 530 e 535 bilhões. Há espaço para outros bancos operarem, mas o dinheiro tem que chegar às agências. Na região Norte, como a demanda é menor, vem menos recurso, e às vezes não atende. Em Santana do Araguaia, um polo agro, estão brigando por crédito que não tem. Precisamos corrigir essa distribuição para que o produtor, em qualquer região, acesse o crédito.

Sobre Flávio Dino, ele disse que o governo não acompanha as emendas de comissão, que falta transparência. Sinceramente, suspender recursos e criar confusão não é o caminho. Ele conhece a estrutura federal: temos a CGU, forte e poderosa, e o TCU. Uma reunião com eles, dizendo “quero assim”, resolveria. Não precisava do que foi feito. Obras paradas pelo Brasil, empresas sem receber de prefeituras ou estados — muito desagradável. As más línguas dizem que o governo precisava fechar o balanço de fim de ano. Segurando as emendas, evitou o vermelho em 31 de dezembro. Mas, com instrumentos como TCU e CGU, não precisa parar; precisa melhorar a transparência.

Carlos Mendes: Elson, sua pergunta.

Elson Monteiro: Vou começar com um comentário sobre a resposta anterior, sobre o ajuste do mercado diante dessa guerra comercial iniciada pelos EUA. Haverá um ajuste natural, porque o empresariado americano tem grandes negócios com a China. Taxar 25% a China leva a retaliações, e muitos setores perdem. Trump foca no Cinturão da Ferrugem, onde fábricas de carros fecharam, gerando desemprego, e taxa carros para atrair empresas aos EUA, um mercado consumidor gigantesco. Mas outras empresas sentirão o impacto. O caso do Canadá se reflete no México: a presidente Claudia Sheinbaum, serena, já fez Trump recuar duas vezes de taxar 25%, mostrando o que o México fornece aos EUA e como afetaria regiões americanas. Esse ajuste vai acontecer.

A questão ambiental está na ordem do dia mundial. Há aquecimento global concreto. Viajo quando posso e, desde os anos 80, ia à Europa. Ano passado, vi verões insuportavelmente quentes, algo que não via antes, até na Alemanha, onde morei. Isso se reflete em secas nos rios da Amazônia. Diante disso, senador, o que você espera da COP30? Que posicionamento acha importante nessa reunião com chefes de estado e organismos internacionais?

Zequinha Marinho: Sobre a guerra comercial do Trump: ele quer repatriar empresas perdidas para a China, onde o custo de produção é muito mais baixo que no Brasil ou nos EUA. Aqui, o custo do emprego é alto: paga-se um salário ao empregado e outro em impostos. Países com custo elevado por burocracia perdem empresas. Na América do Sul, perdemos muito para o Paraguai — é mais fácil e barato produzir lá e mandar para cá. A China está cheia de empresas do mundo todo, inclusive americanas. Trump diz: “Produza aqui e não sofre; produza lá e pague”. Ele quer gerar empregos e economia nos EUA.

Sobre a COP30: no Acordo de Paris, na COP15, firmou-se um compromisso interessante. Nossa forma de produzir emite mais ou menos CO2. Na indústria, um equipamento moderno pode emitir metade do que emito hoje. Na zona rural, o agricultor familiar usa métodos primitivos: derruba, faz roça e queima em setembro. Por quê? Falta tecnologia. Com um trator e insumos, ele não precisaria queimar — a cinza fertiliza, mas sem ela, precisa de insumos. Tirar o fogo e usar máquinas reduz emissões. Para mudar essa matriz tecnológica, precisa de muito dinheiro. Em Paris, os países ricos prometeram 100 bilhões de dólares por ano para países em desenvolvimento, mas esse dinheiro ninguém viu. É como pé de cobra: se aparecer, é perigoso. [Problema técnico interrompe brevemente.] O legado da COP30 para a Amazônia e o Brasil seria liberar esse dinheiro prometido para trazer tecnologia e reduzir emissões, pelas quais somos acusados, embora emitamos pouco. Conversa-se muito nas COPs, mas falta fazer o que importa: liberar recursos para mudar a matriz econômica dos países em desenvolvimento. Sem isso, será uma conferência vazia.

Carlos Mendes: Perfeito. Juscelino Taketomi, sua pergunta. O povo do Amazonas está acompanhando, elogiando seus artigos sobre a COP30, que o Ver-o-Fato começou a publicar. O senador está à disposição.

Zequinha Marinho: [Concluindo antes da pergunta] O que a COP30 poderia deixar é isso: recursos para tecnologia que diminuam emissões. Sem isso, não passa de conversa.

COP-30 e desmatamento

Juscelino Taketomi: Senador Zequinha, a COP30 é o grande momento para enfocarmos o agronegócio. Com o “tarifaço” de Trump, a China buscará mercados alternativos. Amazonas, Pará, Amapá, Acre e outros estados do Norte devem levar à COP30 um debate e documentos sobre isso. Muitos demonizam o agro pelo desmatamento, mas a lei de desmatamento da União Europeia pode impor regras a quem desmata ilegalmente. Com as negociações do “tarifaço” e a COP30, temos uma tribuna para dar enfoque ao agro. Como o senhor vê a necessidade de políticas públicas racionais, paralelas às negociações com Trump, para infraestrutura — ferrovias, hidrovias, a Ferrogrão, portos — que impulsione as commodities agrícolas?

Zequinha Marinho: Sobre desmatamento: nosso Código Florestal é o mais rígido do mundo; a Europa não daria conta de 30% dele. O desmatamento ilegal é exceção — onde tem gente, há bons e maus. Mas o que mata o mundo não é só isso, e sim bilhões de toneladas de lixo e esgoto sem tratamento jogados nos rios e oceanos, adoecendo-os. Os fenômenos dos oceanos determinam os da Terra, como a chuva, que depende de correntes marítimas e da floresta. Foca-se só no desmatamento, mas o esgoto é o grande vilão.

Sobre modais de transporte: o Brasil optou por rodovias, incentivando a indústria de caminhões, e hoje paga caro, econômica e ambientalmente. A Ferrogrão, por exemplo, emitiria 77% menos CO2 que os caminhões, que queimam combustível fóssil 24 horas. ONGs ambientais são contra, mas como, se reduz emissões? Representam interesses externos para frear nosso desenvolvimento. Uma empresa em Barcarena tinha 1,5 bilhão para investir no porto, mas, com a paralisação da Ferrogrão por Alexandre de Moraes, recolheu o investimento. O governo pereja, e o problema está no STF. Precisamos superar esses desafios e investir em infraestrutura para sermos competitivos.

COP 30 e petróleo na Amazônia

Carlos Mendes: Senador, outra questão crucial, ligada à COP30, é a exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Há divisão no governo: Lula é favorável, Marina Silva é contrária e manda no Ibama, que hesita. ONGs dizem que não pode. Peço respostas mais sucintas, pois temos outros temas. O senhor apoia a exploração? Quais os benefícios para a região? A FIEPA diz que gerará 50 mil empregos diretos no Pará.

Zequinha Marinho: Apoiamos a exploração. Recentemente, em Belém, reunimos indústria, FIEPA, trabalhadores e centrais sindicais. É burrice não fazer. O petróleo tem prazo: em 40 ou 50 anos, pode não valer mais, com a transição energética — carros elétricos, biodiesel, etanol. Enquanto vale, devemos explorar e comercializar. Amapá, Pará e Maranhão serão muito beneficiados, como a Guiana, transformada pela exploração. O Rio de Janeiro embolsa bilhões com o pré-sal. No Ibama e no Ministério do Meio Ambiente, a discussão é política, não técnica. Pressionamos o presidente do Congresso, do Amapá, e Lula para emitirem a licença do poço-teste. A Petrobras é responsável, nunca ouvi falar de vazamentos recentes. O Brasil precisa disso. Marina e técnicos da USP querem transformar a margem equatorial em parque marinho, acabando com petróleo e pesca. Precisamos pressionar politicamente o Ministério de Minas, Lula e o Congresso.

Val Mutran: Senador, o senhor talvez seja o político paraense que mais anda pelo estado. Em 20 anos acompanhando seu trabalho, não conheço quem caminhe 10% do que o senhor. Sábado na Vila Canadá, domingo em Salvaterra. Já viu alguma obra do novo PAC avançar no Pará? Cite uma, se existir.

Zequinha Marinho: Pior que não, Val. O governo está sem dinheiro, tentando fazer algo. O PAC está na pauta, mas as obras não saíram do lugar por falta de recursos. Os municípios estão atentos, cadastrados, se preparando, mas, por enquanto, não conheço nenhuma.

Carlos Mendes: Elson?

Fundo soberano na Amazônia

Elson Monteiro: Sobre o petróleo: acho válido explorar, já que as energias fósseis ainda não foram totalmente substituídas, com cuidado ambiental pela Petrobras. Mas o lucro vai para impostos, dividendos do Estado e acionistas, o que é justo. A Noruega criou um fundo soberano com o petróleo, investindo em educação e saúde, tornando-se um dos países mais felizes. A Guiana faz algo assim, melhorando a vida. Por que não um Fundo Soberano da Amazônia com parte dos dividendos dessa reserva gigantesca, para o desenvolvimento social, já que o Norte superou o Nordeste no mapa da fome?

Zequinha Marinho: Excelente colocação, parabéns. Em Belém, debatemos isso com universidades e indústria: como essa riqueza pode melhorar a vida? De nada adianta ganhar dinheiro e manter IDHs baixos, como no Marajó. Seria salutar mudar isso. Vou estudar a ideia de um fundo soberano para atender regiões atrasadas, começando por serviços — saúde, educação, assistência — e infraestrutura, como saneamento, essencial para o IDH (educação, longevidade, renda). A Amazônia é rica, mas o povo é pobre por falta de investimento em pesquisa e tecnologia. Um fundo soberano seria positivo, mas sem política eleitoreira, como programas sem fim. Bolsa Família precisa de começo e fim, inserindo as pessoas no sistema produtivo.

STF e emendas parlamentares

Carlos Mendes: Senador, estamos na reta final, com uma hora e vinte de programa. Sei que o senhor tem compromissos amanhã e está cansado, mas vamos acelerar. Minha pergunta é provocativa: como o senhor vê a interferência do STF nas emendas parlamentares, com 51 bilhões de reais para congressistas, muitas vezes sem explicação? O senhor foi atingido por esse bloqueio? Qual o valor cortado das suas emendas?

Zequinha Marinho: O STF legisla em vez de julgar, invadindo competências — discussão para outro momento. Poderia colaborar sem espetáculo, chamando CGU e TCU para melhorar a transparência, sem bloquear. A burocracia para liberar emendas é enorme: indica-se, pressiona-se o governo para empenhar, a prefeitura e o ministério ajustam projetos, e só depois executam. Não é fácil. Fui atingido, sim. Em Tailândia, o projeto “Qualifica Mais Mulher”, para capacitar mães sem qualificação, atenderia 2 mil mulheres perto de Belém. Era para dezembro, mas, por esse bloqueio, só retomou anteontem, em abril, capacitando mil mulheres até agora. Em Marabá, a feira do Laranjeira parou; em Itaituba, outra feira também. São obras e serviços paralisados por decisão judicial, que poderia ser mais eficiente.

Val Mutran: A decisão judicial não considera o interesse social, né?

Zequinha Marinho: Lamentavelmente, não. Poderia ter 2 mil mulheres qualificadas, mas atrasou quatro meses. Retomamos agora.

Carlos Mendes: Juscelino, sua vez.

Juscelino Taketomi: Senador, sobre Marina Silva, persona non grata pelos desserviços à Amazônia: ela não pode saber da ideia do fundo do Elson, que é magnífica. Apoio e peço que o senhor a leve a sério no Congresso. Os estados amazônicos podem lucrar com o “tarifaço” de Trump, aproveitando tensões comerciais. Governo federal e estados devem investir em sustentabilidade, agronegócio, bioeconomia e infraestrutura. Aqui no Amazonas e no Pará, padecemos disso. Apelo que o senhor defenda com firmeza o agronegócio em Brasília, levando o que discutimos aqui para produzir frutos para a região e o Brasil. Um abraço.

Zequinha Marinho: Obrigado, Juscelino. Tudo que falamos aqui subsidiará nossas ações lá.

Governo do Pará ou Senado?

Val Mutran: Última pergunta, senador. Estou quase apanhando nos meus grupos de WhatsApp se não perguntar: o senhor é candidato ao governo do Pará ou vai tentar o Senado novamente?

Zequinha Marinho: Val, já falei algumas vezes, mas repito: sou candidato à reeleição ao Senado, se Deus quiser, em 2026, para renovar o mandato. Vamos continuar lutando pelo estado e pelo Brasil, com mais experiência e conhecimento. Temos um pré-candidato a governador, o doutor Daniel, e estamos discutindo isso.

Carlos Mendes: Elson, sua última pergunta.

Elson Monteiro: A provocação do Val foi interessante. Há comentários sobre o senhor como candidato a governador, mas o senhor opta pelo Senado. Como vê o quadro eleitoral paraense? O governador tem a máquina e uma candidata sem muita penetração. O doutor Daniel se lança bem, com apoio do segundo maior colégio eleitoral, o Nordeste do Pará, a área mais populosa. A eleição será disputada? Há outros nomes surgindo?

Zequinha Marinho: Os candidatos do governador são bons — para nós vencermos. Quando o adversário é forte, fica difícil. Considero a vice-governadora e o presidente da Alepa vencíveis. O governo pressiona e oprime, mas vejo a população disposta à mudança. Pessoas se oferecem para trabalhar na campanha. O clima é saudável, e acredito que a oposição será vitoriosa, pois a vontade de mudança é clara.

Carlos Mendes: Elson provocou, o senador respondeu sem acirrar. Isso rende um programa inteiro. O Linha de Tiro vai fazer especiais sobre a política do Pará. Agradeço ao senador Zequinha Marinho, desejo sucesso em Brasília.

Obrigado a Juscelino, estreante com grande contribuição do Amazonas, e aos irmãos de Acre e Rondônia, que logo se juntarão a este pool amazônico pela liberdade de expressão, hoje ameaçada por falsos democratas. O Ver-o-Fato não se dobra aos poderosos. Na próxima quinta, o Linha de Tiro volta. Agradeço a Val Mutran, Elson, Juscelino e ao senador. Resistir é preciso. Boa noite a todos.

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