Opinião: “Devo me preocupar com os tarifaços do Trump?”

Por Carlos Castro*

Vivemos mais um período de incertezas nos mercados. A recente alta de tarifas em setores estratégicos — os chamados “tarifaços” —, somada à instabilidade fiscal, às pressões inflacionárias e à volatilidade cambial, tem provocado oscilações nos preços de diversos ativos financeiros. Nessas horas, muitos investidores se sentem inseguros e chegam a duvidar das próprias decisões.

Mas é justamente nesses momentos que um bom planejamento financeiro mostra seu valor: ele é a âncora que mantém a estabilidade emocional e estratégica mesmo quando o mercado balança. Um plano bem feito não depende da cotação do dia, da semana ou do mês. Ele está baseado em objetivos de vida, e não em previsões de curto prazo.

Volatilidade é um termo técnico do mercado financeiro que representa a variação dos preços de um ativo em determinado período. É medida, geralmente, pelo desvio padrão dos retornos. Quanto maior essa variação, maior a volatilidade — e, portanto, maior o risco percebido.

Por exemplo: uma ação que sobe 5% em um dia e cai 6% no outro é considerada mais volátil do que um título de renda fixa que oscila poucos décimos percentuais em um mês. A volatilidade, nesse sentido, é o retrato da incerteza de curto prazo.

Contudo, é importante lembrar que volatilidade não significa perda — ela significa oscilação. E essa oscilação pode ser usada a nosso favor, desde que haja uma estratégia clara por trás.

Da mesma forma, a inflação e o câmbio também impactam diretamente o poder de compra, os investimentos e os preços dos bens e serviços, especialmente em países com maior exposição a commodities ou dependência externa. Mas assim como a volatilidade, não estão sob nosso controle direto. O que está sob nosso controle é como nos preparamos para enfrentar esses movimentos — e é aí que entra o planejamento financeiro.

A forma mais inteligente de lidar com a volatilidade, inflação e câmbio é não combatê-los, mas integrá-los ao planejamento. Veja como isso é possível:

  • Objetivos por prazo: separamos os projetos de vida em três horizontes — curto, médio e longo prazo. O dinheiro de curto prazo não deve estar sujeito à alta volatilidade, nem à influência cambial, mas o de longo prazo pode e deve contar com ativos mais voláteis e internacionais, que têm maior potencial de retorno e ajudam a proteger contra a inflação.
  • Diversificação e perfil de risco: montamos carteiras balanceadas e diversificadas conforme o perfil do investidor — conservador, moderado ou agressivo. A diversificação entre classes de ativos, setores e geografias reduz o impacto de choques localizados e protege contra variações cambiais e inflação local.
  • Consistência na execução: um plano financeiro não reage a cada manchete, mas se adapta a mudanças reais na vida do investidor. Ele é revisado com regularidade e tem como foco os projetos de vida, e não os ruídos do mercado.

A volatilidade é parte natural dos ciclos econômicos. Tarifas, inflação, câmbio, crises políticas e choques externos continuarão a existir. O que não pode oscilar junto com o mercado é a sua estratégia.

Por isso, o plano é o que está sob nosso controle — e é ele que nos permite atravessar os ciclos com serenidade. Quando há um plano, a volatilidade deixa de ser uma ameaça e passa a ser parte do processo. Com disciplina e visão de longo prazo, ela pode até se transformar em oportunidade.

E mais do que isso: um bom planejamento financeiro nos torna resilientes para aquilo que não controlamos — como uma crise econômica, a perda do emprego, uma emergência familiar ou mesmo uma mudança de planos. Ele cria colchões de segurança, reservas estratégicas e clareza de prioridades. Porque a verdadeira liberdade financeira não é ter respostas para tudo, mas sim ter estrutura para seguir em frente quando a vida muda de rumo.

*Coluna escrita por Carlos Castro, planejador financeiro pessoal, CEO e sócio fundador da plataforma de saúde financeira SuperRico

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