Olimpíadas: cientistas criticam demanda por banheira de gelo em jogos

A imersão em uma banheira de gelo se tornou uma prática muito comum entre atletas. Também chamada de crioterapia, a técnica é usada para diminuir as dores musculares e promover uma recuperação mais rápida após treinos e competições. Apesar dos benefícios oferecidos, um grupo de cientistas da Universidade de Montpellier, na França, considera que a popularidade dos banhos de gelo entre os atletas de Paris 2024 é insustentável.

Em artigo publicado no British Journal of Sports Medicine, estudiosos afirmaram que o uso de gelo nos Jogos Olímpicos atingirá “níveis extraordinários”. Além disso, ressaltaram que os benefícios associados à crioterapia não foram comprovados e a quantidade de energia e água utilizadas para produzir, armazenar e transportar o gelo impactam o meio ambiente.

Foto colorida - Ginasta Rebeca Andrade na banheira de gelo durante as Olimpíadas de Paris
Ginasta Rebeca Andrade na banheira de gelo durante as Olimpíadas de Paris

Nos Jogos de Tóquio 2020 foram fornecidas 22 toneladas de gelo para fins médicos nos locais de competição e 42 toneladas foram disponibilizadas na Vila Olímpica. Nas Olimpíadas de Paris 2024, a demanda aumentou drasticamente.

De acordo com os acadêmicos, as estimativas iniciais eram de 1.624 toneladas de gelo, mas nenhum fornecedor independente conseguiu atender à licitação pública e a estimativa foi reduzida para 650 toneladas.

Foto colorida - Homem dentro de uma banheira com gelo
A crioterapia é conhecida por aliviar as dores musculares após exercícios

Segundo os pesquisadores, o gelo deve permanecer disponível para algumas situações, mas “os organizadores devem ter como objetivo minimizar o uso de práticas não baseadas em evidências e promover melhor sustentabilidade”.

“O uso de gelo nas Olimpíadas de Verão atingiu níveis extraordinários, potencialmente estressando os recursos locais e regionais. A comunidade de medicina esportiva precisa de melhores dados sobre a quantidade real de gelo consumida em grandes eventos esportivos, para quais propósitos e quais os custos financeiros e ambientais”, destacou o artigo.

Periferia de evidências

Ao The Guardian, a fisioterapeuta esportiva Paulina Kloskowska afirmou que o esporte de alto nível sempre operou na “periferia das evidências”, mas que as preocupações sobre o uso excessivo de gelo eram válidas.

“Há cada vez mais dados surgindo de que a terapia de calor é de fato melhor para a recuperação muscular a longo prazo em tais circunstâncias, e que a terapia precoce e frequente de gelo e frio pode diminuir a resiliência do tecido, a capacidade de suportar cargas ou se adaptar de forma saudável”, afirmou Kloskowska.

Em entrevista à coluna Claudia Meireles, o fisioterapeuta Lucas Bittencourt Queiroz concordou que há mais evidências sobre o uso do calor. “Não que o gelo não seja importante na recuperação, a gente pode utilizar ele, fazer compressas geladas, na qual você vai atuar dentro de uma inflamação, de uma retirada de edema. Porém, para a recuperação muscular, está claro que a prática baseada em evidências, hoje, é a utilização do calor para a recuperação muscular de atletas”, ressalta Lucas Bittencourt Queiroz.

De acordo com o The Guardian, o diretor médico do Comitê Olímpico, Richard Budgett, disse que o estudo deve ajudar a garantir que o uso da crioterapia nos Jogos Olímpicos seja mais eficaz e racional. “Além disso, há alternativas de gelo disponíveis, incluindo um sistema de resfriamento com água filtrada resfriada a 10 °C, o que nos permite reduzir consideravelmente o consumo de energia”, argumentou.

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