Apesar de cumprir meta fiscal, governo sofre com juros e inflação

Mesmo com rombo de R$ 43 bilhões, o governo federal cumpriu a meta fiscal de 2024, segundo as regras estabelecidas pelo arcabouço aprovado pelo Congresso em 2023. No entanto, ainda há desafios pela frente neste ano. Entre eles, o avanço da inflação e o alto patamar da taxa de juros, que dificilmente vai ficar abaixo de dois dígitos até o fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2026. Combinados, eles pressionam o poder de compra da população.

Em 2025, o governo Lula deve continuar a ser assombrado pelo fantasma da inflação, que estourou o teto da meta no ano passado. No acumulado de 2024, os preços de bens e serviços do país avançaram 4,83% — valor acima da meta, que era de 3%, com variação de 1,5 ponto percentual (ou seja, piso de 1,5% e teto de 4,5%).

Além disso, as expectativas de inflação continuam desancoradas. Segundo dados do relatório Focus mais recente, o mercado financeiro projeta que o governo descumprirá a meta novamente neste ano. A expectativa é de que o índice feche 2025 em 5,50%.


A meta fiscal de 2024

  • A meta do governo federal para 2024 era de déficit fiscal zero. Ou seja, a busca da equipe econômica pelo equilíbrio das contas públicas, com receitas equiparadas às despesas.
  • As contas do governo central — Tesouro Nacional, Banco Central (BC) e Previdência Social — registraram déficit primário (quando as receitas têm saldo maior do que as despesas, sem contar os juros) de R$ 43 bilhões no acumulado de 2024, o equivalente a 0,36% do Produto Interno Bruto (PIB).
  • Mesmo com saldo negativo, a meta fiscal do ano passado foi cumprida. Isso porque o arcabouço fiscal — nova forma de controle de endividamento público brasileiro — tem uma banda (intervalo de tolerância) que permite um rombo de até 0,25% do PIB, o equivalente a R$ 28,8 bilhões.
  • Para fins de cumprimento da meta fiscal de 2024, foram compensados R$ 32 bilhões, sendo R$ 31,8 bilhões em créditos extraordinários e R$ 143 milhões relativos a renúncia de receita.
  • Com as exclusões, o déficit primário de 2024 foi de R$ 11 bilhões (ou 0,09% do PIB).

Outra preocupação da equipe econômica é o impacto dos juros altos. Atualmente, a taxa básica de juros do país (a Selic) está em 13,25% ao ano e o Banco Central (BC) confirmou um novo aumento de 1 ponto percentual na Selic para março.

A taxa de juros é o principal instrumento de política monetária do BC para manter a inflação dentro da meta.

Ao elevar a Selic para conter a inflação, a consequência esperada é a redução do consumo e dos investimentos no país. O crédito fica mais caro, e a atividade econômica tende a desaquecer, provocando queda de preços para os consumidores e produtores.

Além da alta expectativa para os juros em 2025, o mercado segue descrente com a possibilidade da Selic ficar abaixo de dois dígitos durante o governo Lula e do mandato de Gabriel Galípolo. Confira as previsões para a taxa:

  • 2025: 15% ao ano.
  • 2026: 12,50% ao ano (último ano da gestão Lula).
  • 2027: 10,38% ao ano.
  • 2028: 10% ao ano (fim do mandato de Galípolo no BC).

O mercado de trabalho aquecido — boa parte da população em idade ativa empregada — acaba por elevar os preços dos bens e serviços, o que gera pressão sobre a inflação. Quem mais sente no bolso essa pressão inflacionária é a população mais pobre.

Em 2025, o aumento nos preços de carnes, café e açúcar deverá intensificar a inflação de alimentos no Brasil, conforme indicam analistas financeiros. As carnes podem ter alta de pelo menos 16,6% no valor pago ao produtor, com impactos para a indústria e para o consumidor na ponta da linha.

E, como a Selic é uma taxa de referência para o custo das linhas de crédito, juros altos implicam em empréstimos e financiamentos mais caros. Mesmo sendo capaz de conter a escalada da inflação, a taxa Selic pode esfriar a atividade econômica — o que pode resultar na diminuição de contratações ou até em demissões por parte das empresas.

Dessa forma, a inflação e os juros altos preocupam e podem vir a ser uma pedra no sapato no crescimento do país em 2025. O crescimento do PIB deve ser menor em 2025. A estimativa do Ministério da Fazenda é de avanço de 2,5% neste ano.

O aumento das taxas de juros no final de 2024 e a expectativa de novos aumentos em 2025 devem colocar pressões significativas no PIB deste ano. “É pouquíssimo provável que tenhamos uma repetição do crescimento de 2024 neste ano devido à política monetária contracionista e seus impactos na economia como um todo”, explica Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital.

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