Motoboys ignoram blitz do mototáxi para ganhar mais do que no delivery

São Paulo — Com a decisão da empresa 99 em retomar o serviço de mototáxi por aplicativo em São Paulo mesmo diante da proibição da modalidade na cidade, a prefeitura da capital passou a realizar blitze e fiscalizações em diversos pontos para apreender motocicletas usadas para viagens de passageiros. Em menos de uma semana, foram 224 motos apreendidas, segundo a gestão municipal.

Transtornos aos motociclistas

  • O prejuízo é grande para o motociclista: para retirar a moto do pátio são cobradas taxas em torno de R$ 350, que variam de acordo com o tempo que o veículo fica no local;
  • Além disso, a prefeitura está notificando os proprietários com uma multa de R$ 7.100,67, por prática de transporte de passageiros clandestinos;
  • Mesmo assim, pensando na renda, muitos seguem se arriscando.

Motociclistas ouvidos pelo Metrópoles afirmam que a viagem de mototáxi é mais vantajosa do que corridas para entrega de comida. Segundo um dos profissionais, enquanto ele ganha R$ 20 por hora fazendo entrega por aplicativos de comida, com o mototáxi ele arrecada entre R$ 35 e R$ 40. “Ganho praticamente o dobro”, conta.

Nesta quarta-feira (22/1), a Uber também anunciou que voltou a operar o serviço, seguindo os passos da concorrente e aderindo à briga com a gestão Ricardo Nunes (MDB).

“Estamos trabalhando com medo, porque mesmo com a moto estando em dia, estão apreendendo. Tem o IPVA agora, que já pagamos logo no começo do ano, para trabalhar o ano todo despreocupado, troca pneu, troca lâmpada. Tudo isso é caro”, afirmou um motociclista que não quis se identificar.

99 promete arcar com custos

Um outro profissional, que teve a moto apreendida na terça-feira (21/1), afirma estar aguardando o reembolso das taxas do pátio pela 99. A empresa tem prometido aos colaboradores que vai arcar com os custos das apreensões e orientando a não pagar a multa. Ele diz que, mesmo com a apreensão, considera continuar rodando como mototáxi.

“Vai depender da minha situação financeira nesses dias e da deliberação do aplicativo [sobre ressarcir os custos]. Condição de pagar eu não tenho, não. Hoje mesmo esses R$ 300 para tirar a moto do pátio é um dinheiro que eu não poderia mexer”, relata.

Ele ainda afirma que vários dos seus colegas dizem que vão continuar fazendo as viagens. Em grupos de Whatsapp, os motociclistas se organizam para avisar onde estão acontecendo as apreensões.

“Uns caras falaram que vão continuar fazendo normal. Quem tem medo não é a gente, são os passageiros. Ele têm medo de cair alguma coisa [cobrança de multa, por exemplo] em cima deles também”, diz.

Alguns, por outro lado, preferem manter a cautela e afirmam que vão aguardar o desfecho do imbróglio. Um motociclista afirmou à reportagem que fez quatro corridas de mototáxi pela 99 nos últimos dias, mas depois que um amigo teve a moto apreendida, decidiu dar um tempo até que a situação se resolva.

“Não vou fazer mais, a moto do meu amigo está há dois dias apreendida e ele está sem trabalhar. Fora o prejuízo que tem de pagar as taxas até o aplicativo ressarcir. Porque tem que dar um jeito de tirar a moto. Não podemos trabalhar em São Paulo, mas podemos na região metropolitana”, conta. Embora proibida na capital, o mototáxi por aplicativo pode funcionar nas cidades da Grande São Paulo.

De acordo com a Prefeitura de São Paulo, o Departamento de Transportes Públicos, com apoio da Guarda Civil Metropolitana (GCM), realiza operações para coibir a prática ilegal em dez pontos distribuídos por quatro regiões da cidade. O principal argumento da gestão municipal em proibir a prática é o risco de aumento nos acidente fatais no trânsito.

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