Apesar da pressão de Trump, Fed interrompe cortes e não mexe nos juros

Na primeira reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) desde a posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, as expectativas do mercado foram confirmadas e a taxa básica de juros se manteve inalterada.


O que aconteceu

  • Nesta quinta-feira (29/1), o colegiado anunciou a manutenção dos juros básicos no intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano.
  • A decisão anunciada nesta quinta interrompe um ciclo de três quedas consecutivas dos juros nos EUA, que começou em setembro do ano passado – o primeiro corte em cinco anos.
  • Desde então, o BC norte-americano sempre deixou claro que era necessário manter a cautela e analisar cuidadosamente os indicadores econômicos para tomar suas decisões de política monetária.
  • Na última reunião do ano passado, o BC dos EUA decidiu cortar os juros em 0,25 ponto percentual. Com isso, os juros fecharam 2024 em um intervalo entre 4,25% e 4,5% ao ano (antes era de 4,5% a 4,75% ao ano).

Inflação

A elevação da taxa de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para conter a inflação.

O Índice de Preços ao Consumidor nos EUA (CPI, na sigla em inglês) terminou o ano passado em 2,9%, acelerando em relação aos 2,7% no acumulado até novembro. Em dezembro, a inflação norte-americana foi de 0,4%.

A meta de inflação nos EUA é de 2% ao ano. Embora não esteja nesse patamar, o índice vem se mantendo abaixo de 3% desde julho de 2024.

O que diz o Fed

“O comitê considera que os riscos para alcançar os seus objetivos de emprego e de inflação estão aproximadamente equilibrados. As perspectivas econômicas são incertas e o comitê está atento aos riscos para ambos os lados do seu duplo mandato”, diz o Fed no comunicado que acompanha a decisão.

“Ao considerar a extensão e o momento dos ajustamentos adicionais ao intervalo-alvo da taxa dos fundos federais, o comitê avaliará cuidadosamente os dados recebidos, a evolução das perspectivas e o equilíbrio dos riscos. O comitê continuará a reduzir as suas participações em títulos do Tesouro e dívida de agências e títulos garantidos por hipotecas de agências. O Comité está fortemente empenhado em apoiar o emprego máximo e o regresso da inflação ao seu objectivo de 2%.”

No comunicado, o Fed afirma que “continuará monitorando as implicações das informações recebidas para as perspectivas econômicas”.

“O comitê estaria preparado para ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado, caso surgissem riscos que pudessem impedir o alcance de suas metas. As avaliações do comitê levarão em conta uma ampla gama de informações, incluindo leituras sobre as condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação, e desenvolvimentos financeiros e internacionais.”

Pressão de Trump

Antes mesmo de tomar posse para seu segundo mandato na Casa Branca, Donald Trump já fazia críticas às decisões do Fed sobre a taxa de juros e defendia que os cortes fossem intensificados.

Já empossado presidente, em discurso durante o Fórum Econômico Mundial de Davos (Suíça), Trump disse que trabalharia para que os juros nos EUA caíssem “imediatamente”.

“Com os preços do petróleo caindo, exigirei que as taxas de juros caiam imediatamente e, da mesma forma, elas deveriam cair em todo o mundo”, afirmou o presidente norte-americano.

A ascensão de Trump novamente ao poder na maior potência econômica do mundo trouxe mais incerteza ao cenário avaliado pelo Fed. Muitas políticas propostas pelo republicano, como a ameaça de aplicação de tarifas comerciais a outros países e a deportação de imigrantes, têm potencial de pressionar a inflação no país.

Em novembro, após a confirmação da vitória de Trump sobre Joe Biden nas eleições, o Fed justificou a diminuição no ritmo de corte de juros afirmando que “as perspectivas econômicas são incertas e o comitê está atento aos riscos”. O nome de Trump não foi mencionado.

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