O centro das atenções (Por Miguel Esteves Cardoso)

Imagino esta crónica sobre o atual presidente dos EUA como fazendo parte de uma montanha de crônicas, recortadas de todos os jornais do mundo, que um pobre diabo da Casa Branca construiu com cola e arame, para poder mostrar ao Trump e dizer: “Veja, Presidente, o mundo inteiro está a falar de si!”

De fato, não lhe interessa se estão a dizer mal ou bem dele: o que interessa é que estão a falar dele. Para abreviar, Trump pede que lhe leiam a crônica mais elogiosa — em que o equiparam a Deus na Terra — e a crônica mais odienta — em que o caracterizam como o grande Satanás.

Atendendo a este pendor quantitativo, em que aquilo que interessa é ser o centro das atenções, é impossível não sonhar com a única campanha que seria devastadora para Trump: era deixarmos todos de falar dele.

O viciado em atenção também é humano: claro que prefere ser amado. Mas, se não puder ser amado — e é preciso ser-se muito santo para poder conceber uma situação extrema em que seria verosímil uma cabeça muito avariada sentir amor por tal criatura —, o viciado em atenção recorre às alternativas: ao medo e ao ódio.

“Ele é maluco” — é esta a percepção que rende mais medo. “Não o provoquem!” é a reação pretendida — e também a justificação de todos os lacaios desde o princípio dos tempos: “Façam o que ele quer, porque senão é pior.”

Mas Trump é um bully, um bully e um exibicionista que depende inteiramente da importância que lhe atribuem. Não tem força interior. Não tem capacidade para a solidão. Não tem uma única fonte de consolação fora o impacto que tem por ser presidente dos EUA.

Deveríamos ter pena dele, desta dependência dele, pior do que qualquer estupefaciente. Tem os dias contados. Tem de aproveitar estes primeiros dias. Está a ver onde é que o barro se cola à parede. A reação inteligente é não ligar.

A reação inteligente é esperar que passe. Passem-lhe a mão pelo pêlo, digam-lhe que sim, mas aproveitem para se fortalecer à custa dele.

 

(Transcrito do PÚBLICO)

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