HÁ VINTE ANOS – Desembarque triunfal e inesquecível no Recife

Vocês já devem ter ouvido falar da gatinha Hello Kitty. Uma graça! É uma marca que fatura horrores em boa parte do planeta.

Confesso que nunca tinha ouvido falar na Hello Kitty até que minha mulher chegou em casa, anteontem, e me disse com ar grave:

– Bem, a partir de agora você não se irritará mais quando tiver que identificar nossa mala de viagem nas esteiras dos aeroportos. Comprei uma mala inconfundível.

A mala é uma legítima Hello Kitty, e do tamanho maior que há. E, de fato, não há como confundi-la com qualquer outra mala.

Ela é escandalosamente cor-de-rosa. Ou rosa pink, como prefere minha mulher. E traz a carinha da gata e o “K” da marca multiplicados centenas de vezes.

No aeroporto de Brasília, paguei caro a um despachante para que a despachasse muito antes de eu me apresentar às atendente da TAM. A mala, porém, ainda estava ali à vista. E a filha de oito anos de uma passageira não se cansava de admirá-la e de repetir para a mãe:

– Eu quero uma, eu quero uma…

Não havia despachante no aeroporto do Recife que pudesse sacar a mala da esteira e levá-la até o carro que me esperava. Havia, sim, um grupo de dançarinos de frevo, uma pequena orquestra, e, para meu desespero, muita gente animada na sala de desembarque. Gente de pelo menos três voos que chegaram quase na mesma hora.

Quando a Hello Kitty apareceu na esteira, juro que ouvi uma exclamação coletiva de surpresa. Uma espécie de “Ohhhhh!!! acompanhado de vários pontos.

Diante da indiferença geral, os dançarinos pararam de dançar. E a bandinha silenciou.

Achei prudente deixar a mala dar várias voltas na esteira à espera de que esvaziasse a sala de desembarque. Em vão. Poucos foram embora. A maioria retirou suas bagagens, mas ficou por ali curiosa para saber quem era o dono ou a dona da Hello Kitty.

Finalmente, saquei-a da esteira. E fui saudado com palmas prolongadas, gritos e assovios que me pareceram intermináveis. Algumas pessoas me deram amigáveis tapinhas nas costas

Àquela altura, minha mulher já se adiantara e saíra da sala para ir fumar na calçada do aeroporto.

(Publicado aqui em 5 de fevereiro de 2005)

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