Brasil perde relevância entre mercados emergentes: dá pra recuperar?

O CEO da B3, Gilson Finkelsztain, alertou que, embora o mercado de ações brasileiro esteja barato sob qualquer métrica de valor, se o país não pavimentar o caminho para controle das contas públicas, corre o risco de perder total relevância para os investidores estrangeiros. Ele destacou que o peso do Brasil nos índices de mercados emergentes, que já chegou a 16% ou 17%, hoje se situa em 4%, “com viés de baixa”.

Finkelsztain enfatizou que, se essa tendência não for revertida, “chega num ponto em que o gestor global fecha posições no time dedicado a Brasil, deixa de olhar o mercado e compra ETF [fundo de índice], vai ter menos analistas cobrindo as ações”. Ele acrescentou que “tem luz no fim do túnel, mas precisa reverter essa tendência”.

O alerta do CEO da B3 encontra eco entre especialistas do mercado financeiro. Para Fernando Camargo Luiz, gestor da Trópico Investimentos, o Brasil tem perdido espaço na alocação global de investimentos. “Quando o nosso país se torna relevante, ele representa entre 2% e 3% da locação global e hoje está abaixo de 1%”, afirmou.

Camargo Luiz mencionou que um recente Road Show de uma instituição financeira, onde analistas passaram cerca de uma semana conversando com investidores americanos, revelou que os estrangeiros estão reticentes quanto ao Brasil. “A postura do governo, principalmente em relação à política fiscal, prejudica a confiança”, pontuou. Além disso, ele destacou que a instabilidade institucional também afasta investidores. “Temos a briga dos três poderes, os excessos de impostos e a burocracia que, entre outros fatores, afastam os investidores.”

Outro fator apontado pelo gestor é a baixa inserção do Brasil no comércio internacional. “O Brasil continua sendo um país muito fechado, que faz muito pouco negócio com outros países e conta com muitas tarifas de importação sem sentido.” Essa limitação contribui para um enfraquecimento do mercado de capitais, levando empresas a recomprar ações e fechar o capital, em um processo de retração da bolsa de valores brasileira.

Finkelsztain também comentou que, diante da dificuldade dos gestores globais em interpretar as ações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o Brasil poderia se beneficiar de um eventual deslocamento de capital do mercado americano. Ele mencionou que o índice S&P 500 negocia hoje numa razão de 23 a 25 vezes o lucro das companhias listadas, enquanto os emergentes têm uma relação de 12 vezes, e o Brasil, de 7. “Tem oportunidade, deve haver algum rebalanceamento de ativos para emergentes”, afirmou. “Mas a gente está lá atrás nessa corrida de cavalinhos.”

Como reverter esse quadro?

Para recuperar a confiança do investidor estrangeiro, o Brasil precisa adotar uma postura econômica mais sólida e previsível, segundo João Baptista Peixoto Neto, CEO da Ouro Preto Investimentos. Ele avalia que o país deve retomar a credibilidade e reconquistar o grau de investimento, um processo que pode levar tempo. “O Brasil precisa voltar a conquistar a segurança, a confiabilidade, precisa voltar a ser grau de investimento, que vai demorar, precisa ter um bom governo que não gasta e não transmite essa desconfiança que o governo do PT está transmitindo para o mercado”, afirmou.

Para Peixoto Neto, o atual cenário de descontrole fiscal prejudica o ambiente de negócios. “Um governo que só gasta, só se endivida, que está gerando inflação, coisa que já era superada no Brasil.” Ele defende que, para atrair capital externo, é necessário haver uma mudança de postura na condução da política econômica, seja pela correção do atual governo ou pela entrada de um novo governo com maior compromisso com a estabilidade.

O CEO da B3 diz que 2025 deve ser um ano complexo e ressalta as 25 medidas apresentadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao presidente da Câmara, Hugo Motta.”O Brasil precisa trocar o discurso de que está cumprindo o arcabouço no curtíssimo prazo para um em que não tenha problema de default no médio e longo prazo. A visão de arcabouço não é para o mês ou trimestre que vem, é para os próximos três a cinco anos”, diz Finkelsztain.

Fatores externos ao mercado

Peixoto Neto ainda destaca que as empresas brasileiras têm cada vez mais buscado abrir capital no exterior, reduzindo a atratividade da bolsa local. “Hoje uma grande empresa brasileira, uma boa empresa brasileira, vai preferir abrir as ações no mercado americano do que no mercado brasileiro. Aí ficam no mercado brasileiro as ações das empresas que fizeram IPO, que são as empresas piores.”

Ele ressalta, no entanto, que o mercado de capitais vai além das ações e que outras oportunidades podem surgir caso haja um ambiente econômico mais favorável. Um fator determinante para essa recuperação seria um real mais valorizado e uma taxa de juros doméstica competitiva em relação à americana. “Se o real voltar a se valorizar, se estabilizar… Sempre vai ser uma taxa de juros competitiva em relação à taxa americana”, diz. A política monetária dos Estados Unidos também terá um papel relevante. “A taxa de juros nos Estados Unidos precisa cair, e tem que cair porque os americanos também não aguentam essa taxa de juros que está hoje”, conclui o CEO da Ouro Preto.

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