HÁ VINTE ANOS – Com que roupa o PT irá ao seu aniversário?

O PT nasceu de cesariana, há exatos 25 anos. O pai foi o movimento sindical, e a mãe, a Igreja Católica, através das Comunidades Eclesiais de Base. Os orgulhosos padrinhos foram, primeiro, o general Golbery do Couto e Silva, que viu dar certo seu projeto de dividir a oposição brasileira.

Da árvore frondosa do MDB nasceram o PMDB, o PDT, o PTB e o PT. Foi um dos únicos projetos bem-sucedidos do desastrado estrategista que o general Golbery pretendeu ser. Outros orgulhosos padrinhos foram os intelectuais, basicamente paulistas e cariocas, felizes de poder participar do crescimento de um partido puro, nascido na mais nobre das classes sociais, segundo eles: o proletariado.

O PT cresceu como criança mimada, manhosa, voluntariosa e birrenta. Não gostava do capitalismo, preferia o socialismo. Era revolucionário. Dizia que não queria chegar ao poder, mas denunciar os erros das elites brasileiras. O PT lançava e elegia candidatos, mas não “dançava conforme a música”. Não fazia acordos, não participava de coalizões, não gostava de alianças. Era uma gente pura, ética, que não se misturava com picaretas.

O PT entrou na juventude como muitos outros jovens: mimado, chato e brigando com o mundo adulto. Mas nos estados, o partido começava a ganhar prefeituras e governos, fruto de alianças, conversas e conchavos. E assim os petistas passaram a se relacionar com empresários, empreiteiros, banqueiros. Tudo muito chique, conforme o figurino.

E em 2002 o PT ingressou finalmente na maioridade. Ganhou a presidência da República. Para isso, teve que se livrar de antigos companheiros, amizades problemáticas. Teve que abrir mão de convicções, amigos de fé, irmãos camaradas.

O PT chegou à maturidade carregando, como todo mundo, marcas da infância e da adolescência. O stalinismo está no seu DNA. Por isso, de vez em quando somos ameaçados por surtos autoritários, como a Ancinav, o Conselho de Jornalismo e a reforma universitária.

O PT faz 25 anos. Carrega consigo o fim do sonho ético, que se acabou quando o escândalo Waldomiro Diniz explodiu no colo do ministro José Dirceu. Depois disso, nada foi como antes. Nem o PT, nem o governo Lula, nem José Dirceu.

A emocionante pergunta que fica é: daqui para frente o PT vai amadurecer ou vai ficar como algumas mulheres, todas plastificadas, que continuam vestindo as roupas de suas filhas de 18 anos – ou de suas netas?

Esta metáfora vai para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o metaforista-mor do PT, neste aniversário de 25 anos.

 

(Publicado aqui em 10 de fevereiro de 2005)

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