A dor guardada (por Tânia Fusco) 

Segunda feira, última sessão do dia, filme nacional com mais de um mês em cartaz, cinema quase lotado. Silêncio durante toda a exibição. Reverência à história real exposta na tela.

Eunice Paiva, protagonista do filme Ainda Estou Aqui não é personagem de ficção. É contemporânea. Parte de tragédias dos tempos da ditadura militar brasileira, que durou 21 anos. Longa e cruel. Tempos de barbárie. Tempos de medo. Quando o Estado podia tudo contra qualquer cidadão, qualquer cidadã.  Cidadania era luxo.

Gente adulta, de menos de 40 anos, fazia maioria no público silencioso que assistia ao filme. Nem soluços, nem suspiros. Nem entre a maioria jovem ou a minoria adulta.  Só silêncio. Até o ultimo letreiro. E ainda depois de luz acesa.

Ainda Estou Aqui faz muito pela História do Brasil. Leva ao público o tudo que pode fazer, como e quantos pode alcançar a violência de um Estado autoritário.

A família comum de Eunice Paiva e filhos nunca soube o que foi feito do corpo de seu marido, de seu pai, levado vivo de casa, num dia também comum. Por longo tempo, sequer tiveram a certeza de que estivesse morto.

A História brasileira conta 434 mortos e desaparecidos pela ditadura, estima em miles e miles outras vítimas mortas e desaparecidas. Todos ganham vida nas duas horas do delicado filme do diretor Walter Salles, nos silêncios, nos olhares da dor guardada de Fernanda Torres, recontando Eunice Paiva.

A História sempre arranja um jeito de desesconder o escondido. É mais um dos prêmios do filme.

“A vida presta muito”, celebra Fernanda Torres, atriz brasileira, escritora, filha de atores, cria do teatro, da TV, do cinema brasileiro. Bravo!

De um lado, o surpreendente DeepSeek, do chinês Limig Wenfeng, a Inteligência Artificial “barata’ que lê, interpreta e traduz sentimentos.

Do outro lado, a saudação nazista gravada por jovens machos alfa de Catanduva (SP). Repetiam “de brincadeira” o tenebroso Hitler e seu compa Elon Musk na posse do belzebu Trump.

 

Tânia Fusco é jornalista 

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