O abraço da elite paulista em Tarcísio. Falta negociar com Bolsonaro

José Dirceu de Oliveira, 79 anos, ex-deputado federal, ex-presidente do PT e ex-chefe da Casa Civil do primeiro governo Lula (2003/2006), voltou à cena política nacional de onde nunca saiu, nem quando condenado no caso do Mensalão do PT, nem quando implicado no caso do Petrolão. Foi preso mais de uma vez.

Se não mudar de ideia, ele será candidato a deputado federal por São Paulo e deverá se eleger como um dos mais votados. Reaproximou-se de Lula depois de um longo período de distância, e Lula, que não o convidou para as cerimônias de posse do seu terceiro mandato, chegou-se  a ele.

Os dois se encontraram recentemente em um jantar na casa de Marta Suplicy, ex-prefeita de São Paulo. Dirceu está em campanha para fazer de Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara, presidente do PT. Edinho é também o candidato de Lula.  A capacidade de Dirceu de enxergar longe parece cada vez mais afiada.

Ontem à noite, em um evento na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Dirceu vaticinou:

“O candidato da direita [a presidente da República em 2026] chama-se Tarcísio de Freitas. A elite de São Paulo já o abraçou”.

O “abraço” da elite não basta para que Tarcísio se eleja, mas é um formidável ponto de partida para ele. Salvo Jânio Quadros em 1960, desde 1934 nenhum governador de São Paulo se elegeu presidente. Brincando, o mineiro Tancredo Neves dava graças a Deus por os paulistas não dominarem tão bem a arte da política.

Pois era só o que faltava: além de saberem construir fortunas, serem igualmente hábeis nos jogos do poder político. A propósito, há uma frase que se atribui ao maranhense José Sarney, ex-presidente da República. Em tom de  ironia, ele teria dito:

“São Paulo é o país mais amigo do Brasil”.

Segundo Dirceu, o “abraço” da elite paulista deve-se ao fato de Tarcísio defender a privatização de tudo que a seu juízo possa ser privatizado. Tarcísio insiste em negar que renunciará ao governo paulista daqui a um ano para disputar com Lula a Presidência. Repete quase todos os dias que seu candidato é Bolsonaro.

Mas Bolsonaro está inelegível até 2030. E depois de condenado pelo Supremo Tribunal Federal por golpe, abolição do Estado Democrático, organização criminosa e danos ao patrimônio público, a inelegibilidade de Bolsonaro aumentará e ele será preso se não fugir. Não haverá anistia. Tarcísio sabe disso, só não diz.

Dirceu, que pode dizer o que bem entender, afirma:

“Bolsonaro vai responder pelos crimes que cometeu. A direita não o quer como candidato. E vai ameaçá-lo de prisão sem indulto se ele continuar a fazer o que quer fazer.”

Por ora, Bolsonaro repete que mesmo preso, o PL de Valdemar Costa Neto registrará sua candidatura. Se impedido de concorrer, então apoiará outro nome, de preferência um dos membros de sua família. Bolsonaro blefa para vender mais caro o apoio a Tarcísio. O negócio de Bolsonaro  é dinheiro e influência.

A elite paulista tem influência e dinheiro de sobra. É uma questão só de acerto.

 

Todas as colunas do Blog do Noblat

Adicionar aos favoritos o Link permanente.